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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

UMA HISTÓRIA TRISTE - Contos




Maurício acabara de sair da casa de Marilena, sua noiva. Estava desesperado! Não conseguia entender porque sua adorada Marilena havia rompido o noivado, assim, sem motivo aparente, sem briga, nada que a levasse a esse extremo...
Há tempos, vinha notando que Marilena andava pensativa, um tanto nervosa, mas julgava estar sua noiva triste por ter perdido seu querido irmão, Júlio, num acidente de carro.
Mas isso não justificava o rompimento do seu noivado, que já durava dois anos, num romance recheado de planos para o futuro, procurando uma linda casa, que não fosse de luxo, mas que tivesse um quintal, onde os filhos, que pretendiam ter, pudessem brincar e correr à vontade. Na rua, as lágrimas rolavam de seus olhos, banhando todo o seu rosto e a gola de sua camisa. Pensou em voltar para implorar que ela dissesse que aquilo era só uma brincadeira, mas não, ela fora taxativa, era definitivo... Amando-a intensamente, uma dor imensa invadiu seu coração e ele, num ímpeto, pensou em se matar... Mas como? Numa rua deserta, a única maneira que encontrou foi gritar e chorar copiosamente pela perda do seu amor...
Se pelo menos, tivesse alguém que pudesse abraçá-lo a fim de mitigar seu sofrimento... Sozinho, ali parado, encostou seu rosto no poste e assim ficou por longo tempo...
De repente, sentiu que alguém o segurava por trás, apalpando suas roupas e seus bolsos, dizendo: Perdeu, perdeu, meu chapa, fica quetinho, senão arrebento seus miolo! Maurício percebeu que estava sendo assaltado. Meio assustado, levantou os braços e deixou que o ladrão o revistasse. Ao encontrar pouco dinheiro, o ladrão, mandou que ele virasse de frente para procurar dentro dos bolsos do paletó e, nada mais encontrando, avistou o relógio de pulso.
- Hum! Legal, um relógio bunito! Vou levar... Vai tirando logo! Pelo menos, esse, vai me dá uma boa grana... Ué! Espera aí, tu tá chorando, meu chapa? Chora não! A vida é assim mermo, a gente não tem imprego, então temo que robar pra levá o leite das criança. Tu tá cum sorte, se tu não tivesse esse reloginho, eu ia usá a minha arma, de tão desesperado que tô... A mulher falou que se eu não levasse o leite dos minino, ela ia mi botá pra durmi na rua e ia arranjá outro homem pra sustentá ela e as criança. E você sabe, sou ladrão, mas adoro os meus minino e não quero perdê eles...
Maurício, diante desse desabafo, pediu para baixar os braços, no que o ladrão concordou, mas sempre com a arma apontada pra ele. Enxugando as lágrimas, perguntou se podia falar:
- Pode, mas fala depressa porque tenho que chegá em casa com o leite sinão os minino vão dormi cum fome...
- Quando você me abordou, quase desejei que me matasse...
- É mermo? Que isso? Por que tanta tristeza, um homem tão novo !!
- - Hoje, perdi o grande amor da minha vida. Meu coração estava sangrando de tanta dor, por isso desejei morrer. Agora, conhecendo a sua vida é que vejo que outras pessoas também passam por situações como a sua mas mantêm, embora tortuosa, uma vida amorosa com sua mulher e seus meninos . Procure trabalhar honestamente , esforce-se para manter a família que você ama...
- Aí moço, vou segui seu conselho... Na verdade, eu menti, eu não ia matá mermo, minha arma nem é de verdade, é um brinquedo que meus minino acharam na rua... Só não devolvo o relógio porque depende dele pra eu alimentar os meus guris...
- Não precisa devolvê-lo. Aprendi com você que temos de aceitar o que a vida nos oferece e tentar enfrentar os desafios com garra e perseverança... Hoje, perdi minha noiva, mas ganhei uma bela lição de vida, a sua. Mas gostaria de lhe dar outro conselho: _ Meu amigo, procure estudar para melhorar de vida. Assim, você consegue arranjar um emprego certo, com carteira assinada e com todos os direitos trabalhistas garantidos, mas isso depende de você... Espero que consiga levar uma vida honesta! Garanto que sua família vai sentir orgulho de você e, nunca mais, sua mulher vai colocá-lo pra dormir na rua...
- Obrigado, moço, gostei muito du sinhô! Vou correndo pra casa ver meus mininus. São dois mulequinho levados!!!...


JUSTINO E AS CABRAS - Contos




Seu Antônio Severino da Cruz (Seu Tonho), tem um pequeno sítio, onde cria cabras. É daí que tira a maior parte do seu lucro, criando-as para o abate. Além disso, cultiva frutas, legumes e verduras, que vende, aos domingos, na feira da cidade...
Vivia sozinho até dois anos atrás, quando conheceu dona Mariinha, uma viúva, pessoa simpática, sem eira nem beira, que se engraçou com ele, visando ter uma vidinha melhor.
Começando por ajudá-lo nos serviços da casa, lavando a sua roupa e fazendo a sua comida, acabou fisgando o velho solteirão e assim, os dois casaram-se.
Daí pra frente, a vida financeira do sítio melhorou, porque tendo sua mulher em casa para fazer o serviço, podia dedicar-se mais às suas cabras e à sua plantação... Entretanto, quando tudo parecia caminhar bem, seu Tonho recebeu um telefonema da Toninha, filha que tivera com uma prostituta, no lugar onde morou, antes de comprar o sítio... Na verdade, seu Tonho nem tinha muita certeza se a Toninha era mesmo sua filha. Deu-lhe o nome, mas pouco a visitava, esporadicamente, dava-lhe algum dinheiro e isso bastava para que não passasse como pai ausente. Amor, nem tanto. Sentia por ela, somente, um pouco de pena. Depois que Toninha arranjou um homem , amancebou-se com ele e o pai, então, eximiu-se de ajudá-la...
Mas, quando o telefone tocou, não foi para lhe dar boas notícias: a filha, chorando, pedia-lhe que a ajudasse porque o safado do marido dera no pé, deixando-a embuchada.
Seu Tonho, revendo o seu passado, sentiu que tinha obrigação de ajudá-la, mesmo porque ela ia lhe dar um neto e esse neto era o sonho da sua vida. Precisava dar continuidade à sua família, um herdeiro para tocar o seu sítio quando ele se fosse... Antes de dar a notícia à mulher, pensou no que seria a sua vida, depois do nascimento do guri. Imaginou mil coisas, inclusive trazer a filha e o neto para morarem no sítio... Assim ficaria mais tranquilo para cuidar e educá-lo para sua sucessão... Depois de tomar algumas providências com relação ao sítio, chamou a mulher:
- Mariinha: vou ter que ver minha filha mais a miúde... O marido abandonou-a com um filho na barriga. Ela tem esperança que ele volte mas, caso isso não ocorra, terei que visitá-la todos os dias para dar um suporte no que for preciso. Quero que esse neto nasça com muita saúde!!! Se possível, gostaria de trazê-lo para criá-lo aqui comigo... Mulher, o quê que você acha?
- E a mãe de sua filha, por onde anda? Perguntou-lhe a mulher...
- Ah, morreu, faz anos... A órfã, menina ainda, foi morar com a avó materna que, também, já faleceu. Depois se perdeu com o pai dessa criança e foi morar com ele. Já que tinha marido, parei de ajudá-la... O resto, você já sabe...
- Mas Tonho, o que vai ser do sítio?...
- Fique tranquila, Mariinha. Já contratei um peão para tratar das cabras e do cultivo, mas estarei aqui sempre à tardinha...
- Mas vai deixar o sítio na mão de um estranho?...
- Escute Mariinha... Tive ótimas referências dele. Chama-se Justino, é um peão forte, trabalhador e muito responsável. Já reservei, para ele ocupar, o quartinho lá nos fundos, próximo ao pasto, onde passa o córrego de água limpa. Soube, também, que é pau pra toda obra... Se tiver algum problema aqui dentro do sítio, como trocar uma lâmpada, consertar o chuveiro, sabe como é, coisas que as mulheres nunca sabem fazer, pode chamá-lo que ele faz.
- Tá bem, Tonho. Já entendi...
- Sabia que você ia entender... Enquanto isso, nas horas vagas, vá tricotando uns sapatinhos de bebê para o meu neto...
Nos dias subsequentes, quando chegava à casa, ia olhar as cabras e ficava satisfeito por vê-las bem tratadas e bem alimentadas, com as tetas abundantemente cheias. Com o cultivo, nem tanto, mas... nem sempre pode-se ter tudo perfeito, né?... _ pensava com seus botões_ admitia, até, em dar ao peão, um aumento no seu salário...
Dona Mariinha não tivera, ainda, a oportunidade de conhecer o tal peão. Curiosa, foi até o pasto e ficou escondida, atrás de uma árvore, observando-o, de longe... Pode ver que tinha músculos fortes, com várias tatuagens... Sentado na grama, de costas para ela, não podia ver seu rosto. Ademais, as cabras sentadas à sua volta, desfrutavam do solzinho da tarde e da carícia que Justino lhes distribuía. As adultas, chegavam-se mais perto, como a pedir carinho ou aconchego. De repente, Justino levantou-se e ela pode ver-lhe o rosto... Era jovem, podia ter, no máximo trinta anos...
Mas o que ela viu, jamais esperaria ver... Justino, já de pé, pegou por trás, a cabra Marieta, justamente a queridinha do marido, a que nunca seria vendida. Era a maior das cabras, branca e preta, mais branca do que preta e, acariciando-a, satisfez ali, mesmo, o seu instinto lascivo...
Sem ser vista, Mariinha voltou para casa, mas aquela cena, não lhe saía da cabeça. Estava excitada. Na cama, ao lado do marido, não conseguia dormir. Percebendo a insônia da mulher, Seu Tonho perguntou:
- Que é que você tem, mulher? Está com dor ou estressada...?
- Não, Tonho, meu mal é carência afetiva... Percebo que, depois que soube da perspectiva de ter seu neto, não liga mais pra mim... Nâo me procura mais, acho que não represento nada pra você...
- Nada disso, Mariinha... Entenda que essa viagem todo dia, deixa-me cansado e louco pra dormir. Minha filha está com gravidez de risco, não pode fazer esforço e tudo recai sobre mim. Já pensou se ela perde essa criança e o meu sonho? Vai pro brejo!...Credo em cruz!!
Mariinha teve que se conformar... Ultimamente, Tonho já não se interessava muito por sexo ; só fazia planos de como criar e educar o netinho. Sim... porque era, mesmo, um menininho que iria nascer e ele estava feliz...
Enquanto relegada pelo marido, Justino satisfazia-se com as cabras. Era realmente uma situação esdrúxula... Seus pensamentos envolviam-na como se estivesse naqueles braços, sorvendo a deliciosa ventura de tê-lo só pra si... Sentia ciúmes daquelas cabras, passara a odiá-las , não tinha cabimento, com um marido frouxo que não dava mais no couro e ela ali, morrendo de paixão pelo Justino, o Peão. Um vazamento na pia do seu banheiro foi a oportunidade que surgiu para atraí-lo. Chamou-o e ele, prontamente se propôs a resolver o problema para ela...
Justino, como sempre prestativo, logo que chegou ao sítio perguntou onde era o vazamento:
- É aqui no banheiro do meu quarto. Venha... Por favor...
Compenetrado no seu trabalho, nem percebeu que ela o rodeava, vestida com uma camisola transparente. Mas, ao terminar o trabalho, pelo olhar malicioso de Mariinha e pelo , andar cadenciado, captou que ela o estava tentando... Então falou:
- Patroa, a senhora aí, com essa camisola... Por que? O seu marido está para chegar?
- Não Justino, coloquei-a para você... Não gosta?
- Gosto né, dona... mas não posso fazer isso... A senhora é mulher do meu patrão e eu não posso fazer uma traição dessas... Além do mais, não quero perder meu emprego. Logo agora que arrumei esse trabalho, com carteira assinada e tudo. Ainda tenho o meu quartinho que o Patrão me deu para morar e assim poder ficar perto das cabras, minhas amigas...
- Não seja bobo! Meu marido só chega à noite... Temos a tarde toda para nós dois... Antes que Justino fugisse, ela o agarrou, jogou-o sobre a cama e lançou-se sobre ele como se fosse uma onça esfomeada... Sem forças para resistir e, não tendo alternativa , tomou-a e, abruptamente, satisfez o desejo daquela louca desvairada... Arrependeu-se logo:
- Não devia ter feito isso... Estou traindo o meu Patrão e estou arrependido...
- Pois eu, não me arrependo... Meu marido não liga mais pra mim, só pensa no netinho que vai nascer... Então, não se culpe... Mas, da próxima vez, tome um banho e não venha fedendo a bode...
- Não haverá próxima vez. A senhora pegou-me desprevenido e isso, não vai se repetir...
Mariinha preferiu não argumentar. Sabia que teria outras oportunidades, nem que tivesse que procurá-lo no quartinho...
Nessa noite, seu Tonho trouxe uma novidade, não muito alvissareira: seu genro voltou para a filha , pediu milhões de perdões e os dois se acertaram.
Seu Tonho, agora, mais presente, ficou mais difícil para Mariinha ter, de novo, o Justino. Mas não titubiou, no domingo, assim que o marido saiu para a feira, foi ao quartinho do Justino, tentá-lo novamente. Desta vez, ele reagiu severamente e a expulsou, chamando-a de adúltera, traíra e etc...
Mariinha não esperava essa reação do Justino..._ Ora essa, trocar-me pelas cabras mas, vai ter troco, vou me vingar...
Assim que o marido chegou da feira, no domingo, Mariinha foi logo dedurando:
- Sabe Tonho, o que eu descobri ? Que o seu empregado usa as cabras para fazer saliência?...
- kkkkkkkkkk... Ah, é isso? Que novidade! Todo peão, na roça tem esses costumes. Não liga não, mulher, finge que não vê
- Mas é um indecente...
- Não, aqui é comum, você viu como as cabras estão bem tratadas e felizes? Agora, vou avisar uma coisa: se eu souber que ele faz isso com a minha Marieta, ponho-o no olho da rua!!!...
Mariinha vibrou! Já possuía a arma que precisava para chantageá-lo. Daí em diante, ela o teria na mão, desculpe, na cama. Justino, para não perder o emprego, não teve escolha: tornou-se o amante da patroa... Forçado, é claro, porque ele não gostava mais dela do que das cabras e, por vingança, também, nunca tomava banho, vinha sempre fedendo a bode...
Vez por outra, Mariinha pensava no ciúme que o marido tinha da sua querida cabra Marieta e ficava a dúvida: _ Será que ele, também, mantinha um romance com ela, antes de me conhecer?_ Nunca soube...



RENÚNCIA - Contos




Dois irmãos Márcio e Marcelo são gêmeos idênticos. Nasceram de um mesmo óvulo e, por serem extremamente parecidos, fica difícil a identificação de cada um...Até mesmo a família costuma confundir-se dada a semelhança física. que existe entre eles. Além de irmãos, são grandes amigos, estão sempre em sintonia, um com o outro. Entretanto, pessoalmente, são bem diferentes: Marcelo é extrovertido, brincalhão, gosta de se divertir, tem uma legião de amigos e de moçoilas, suas fãs, que o convidam para festas e ele está sempre aberto para os amigos, em geral. É estudioso, mas isso não o impede de se divertir... Já Márcio, é tímido e recatado, dedica-se muito aos estudos. Diferente do irmão, ele prefere ouvir música romântica, ler poesias... Por isso mesmo, prefere permanecer em casa, ao invés de sair para tomar umas cervejinhas ou ir à festas que não lhe agradam... Mas Marcelo, sempre insiste:
- Ô meu irmão! Deixa de ser careta! Vamos à festa na casa da Carol, hoje à noite... Ela faz aniversário e nos convidou. Quer conhecê-lo, de tanto que falo de ti... Lá, é gente boa, tu vás gostar, além disso, tenho uma surpresa pra te contar, quando chegarmos à festa...
Márcio hesitou mas, não contendo a curiosidade, resolveu aceitar:
- Está bem, mas vou só porque me deixaste curioso...
- Que bom, fica certo que vamos ao encontro de pessoas maravilhosas...
- Espero que não sejam aquelas piriguetes que não têm um assunto que preste...
- Claro que não; se não gostares, nunca mais te convido...
E assim, tendo o irmão querido, por perto, Marcelo , apesar de parecer forte e decidido, sentiu medo da decisão que iria tomar, ao chegar à casa de Carol. Afinal era um momento difícil para ele e, com Márcio, seu irmão, mais centrado e comedido, sentir-se-ía com mais coragem para fazer o que pretendia...
A casa de Carol era bonita, assim toda iluminada e a impressão que dava era a de que ali residiam pessoas refinadas, mas simples no trato e isso, deixou-os bem à vontade...
Carol recebeu-os com um sorriso tímido, emoldurado por um olhar carinhoso e acolhedor. Era simples no vestir e, no pescoço, apenas uma gargantilha dourada...Tinha a pele morena- clara e os cabelos negros encaracolados. Márcio, ao ser apresentado a Carol, sentiu um forte aperto no coração que o deixou sem fôlego; tímido do jeito que era, só conseguiu pronunciar uma palavra: prazer...
A seguir, foi a vez de apresentá-los aos pais de Carol. Era um casal distinto, que os agraciou com o estilo agradável das pessoas que bem sabem receber, convidando-os para conhecer os outros convidados. Márcio e Marcelo, após as apresentações, em pouco tempo, já estavam engajados naquele grupo agradável, tanto de jovens como de adultos. Marcelo era o mais falante e, não demorou, já falava com todos, enquanto Márcio, sentado numa poltrona da varanda, não tirava os olhos de Carol. Enquanto a olhava, sentia que Ela, também, correspondia aquele olhar lânguido, de apaixonado. Fechava os olhos e sonhava com Ela nos braços, os dois juntinhos, passeando pela praia, trocando juras de amor...
Num dado momento, Marcelo dirigiu-se ao pai de Carol, Sr. Alfredo e disse que gostaria de conversar com ele, tendo como testemunhas, somente, sua esposa, Dona Leila, a Carol e o seu irmão, Márcio... Sr. Alfredo, então, convidou-os para seu escritório e lá, iniciou-se o seguinte diálogo:
- Sr. Alfredo, não sei se a Carol já lhe falou sobre nós, mas o certo é que nos conhecemos há pouco tempo e começamos a namorar; como não gosto de nada escondido, aproveito esta ocasião para pedir ao senhor e à Dona Leila, que concedam-me a honra de namorá-la e frequentar a sua casa... nos dias em que o senhor determinar, é claro...
- Marcelo: minha esposa Leila já havia conversado comigo e, baseado nas informações da Carol, achamos que você merece, mesmo, o nosso apoio e, quem sabe, mais tarde, a nossa bênção?...
- Obrigado, Sr. Alfredo! A Carol fala-me muito bem sobre o senhor... Sabia que podia contar consigo e com a Dona Leila...Muito obrigado!...
Chegando à casa, Marcelo percebeu que Márcio estava diferente...Irritadiço, fugia às conversas, isolava-se num canto, meditativo ou, então, entregava-se aos estudos e aos livros. Começou a fazer poesias tristes sobre o amor, ora lamentando um amor impossível, ora clamando pelo amor que não aconteceu, chegou, mesmo, a rogar a Deus que lhe desse forças para esquecê-la porque ela não lhe pertencia, etc...
A princípio, Marcelo não deu muita importância à atitude do irmão. Márcio sempre fora fechado, trancava-se no quarto, quando tinha algum problema mas, com ele, era diferente. Como irmãos e grandes amigos, sempre conseguia arrancar dele seus problemas e juntos, conversavam, às vezes, até altas horas...
Dias depois, Marcelo percebeu que seu computador estava com defeito. Tendo um trabalho urgente, foi ao quarto do irmão e lá, ele descobriu o motivo da tristeza de Márcio: pelas poesias no computador, Marcelo percebeu que Márcio estava perdidamente apaixonado pela sua namorada, a Carol... Por coincidência, Carol, também, sempre perguntava por ele, ficava com o pensamento distante desde o dia em que ela o conhecera...Remexendo a sua memória, lembrou que Márcio, também, mudara desde o dia da visita à casa dos pais da Carol.
- Pobre do meu irmão, como tem sofrido! Como poderia dizer-me que amava a minha namorada? Jamais confessaria...
Sem falar nada para o irmão, resolveu abrir mão daquele namoro, inventou uma desculpa qualquer pra ela, pediu desculpas aos pais e deixou o caminho livre para o grande amor da vida do irmão querido...


O SOLITÁRIO - Contos




De cabeça baixa, Celso descia a pequena escada do seu quarto com o semblante abatido: sua cabeça girava, não conseguia organizar suas idéias. Lembranças antigas surgiam em sua mente, trazendo de volta uma estória do passado que há muito tentava esquecer; mas estava ali, na sua frente, sorrindo para ele com meiguice no olhar, como a encontrar o sonho dourado da sua vida, a dádiva divina que acalentou desde menina... Conhecer seu pai...
Remoendo o passado, Celso procurava lembrar-se do dia em que Letícia procurou-o, chorando muito, dizendo estar grávida. Não tinha coragem de contar em casa. Tinha medo do pai, um homem grosseiro que espancava a esposa e a filha, também, não recebia, sequer, a atenção e o carinho do pai. A mãe, sempre submissa, embora amando a filha, não tinha forças para protegê-la...
Impactado com a notícia, Celso, um adolescente inseguro, com dezessete anos, pediu-lhe que tirasse aquela criança, pois não tinham condições de criá-la; ambos estudavam, ainda, no colegial...
Letícia, sentindo-se desprotegida mas, com a força do sentimento materno, resolveu ter aquele bebê, custasse o que custasse, mas não mataria seu filho... Contando com o apoio da mãe, Letícia resolveu partir para a cidade onde sua tia e madrinha morava, sabendo que lá receberia o apoio que necessitava... Assim o fez, foi recebida com carinho pela tia e quando sua filhinha nasceu, a mãe, cansada da vida de sofrimento, resolveu, também seguir o mesmo caminho e foi encontrar-se com a filha e com a netinha... Deixou para trás o marido mal-humorado que só fazia reclamar e xingar.
Enquanto isso, Celso, procurando uma forma de contornar a situação que ele e sua namorada, por imprudência, haviam provocado, recorreu aos pais, pedindo-lhes ajuda, mas esses, também, por intransigência, omitiram-se...
- Quem tem suas cabras, que as prendam!..._ diziam...
Celso ainda procurou Letícia para tentarem uma fuga, mas chegou tarde... Ela já havia partido sem avisá-lo... A partir daí, sua consciência virou um redemoinho: um misto de alívio e, ao mesmo tempo, de remorso. Para ele, as noites pareciam mais longas... Quando conseguia pegar no sono, sonhava com choro de criança, um choro triste, martelando os seus ouvidos... E assim, por um longo tempo, Celso sofreu por ter abdicado de seu filho, mas procurava justificativa:
- Deus há de me perdoar; eu tentei, mas ela não soube esperar... Não posso ficar sofrendo a vida toda, tenho que estudar e me formar... Mais tarde, quem sabe a gente se encontra? Vou procurar esquecer, para que eu possa continuar minha vida num ritmo normal. Nada melhor do que procurar outros relacionamentos e me divertir...
Anos mais tarde, Celso casou-se com Marilda e foi feliz. Ficaram casados quinze anos, mas, por sorte do destino, não tiveram filhos... Sua esposa era bondosa e sempre o incentivava a procurar o filho ou filha que não conhecera... Mas Celso relutava, mal sabia ele que sua esposa tinha pouco tempo de vida... Até, então, não desconfiava, porque Marilda frequentemente ia ao médico e tomava tantos remédios... Antes de morrer, Marilda escreveu para Letícia narrando o seu caso, pedindo que levasse o seu filho ou filha para conhecer o pai, pois garantia que ele sempre a amou e sofreu a vida toda pela sua insegurança e abandono...
Marilda faleceu. Só, com a sua solidão, Celso virou um nada, um autômato, que fazia as coisas essenciais e, a seguir, fechava-se na sua concha, mal comia e mal falava com as pessoas. Finalmente entrou numa depressão profunda, tornando-se o “SOLITÁRIO” do pedaço, como era conhecido.
Jogado numa cama, escutou a campainha tocar; só teve forças para falar:
- A porta está aberta, pode entrar...
- Com licença? Estou entrando... Onde está o senhor?... __perguntou com aquela voz de menina moça...
- Eu lhe conheço? __ não pai, mas vai conhecer... Sou Lívia, sua filha!
- O quê? Minha filha?? Não acredito... __ Celso levantou da cama entre feliz e assustado ao mesmo tempo, não sabia o que dizer... __ Estou aqui, no quarto, espere um pouco, vou me recompor... ( foi correndo ao banheiro, lavou o rosto, penteou o cabelo e trocou a camisa. Olhou-se no espelho; estava um lixo, a barba por fazer, parecia dez anos mais velho e, no entanto, tinha só trinta e oito anos...) Mas não podia deixá-la tanto tampo na sala, esperando-o... Abriu a porta e deu com o sorriso mais lindo que jamais vira. Tinha os olhos verdes da mãe, cabelo castanho claro, como o seu e era bela como uma rosa desabrochando!... Abraçou-a sorrindo, sorrindo muito, não parava de sorrir, abraçava-a de novo, pedindo-lhe perdão...
- Não precisa pai! Estou tão feliz de encontrá-lo que nem sei como expressar... Minha mãe, também, vai ficar tão feliz quanto eu ... Ela nunca o esqueceu. O senhor foi o único homem na sua vida. Não quis casar, dedicando-se exclusivamente ao trabalho a fim de me educar e ajudar minha tia e minha avó no sustento da casa. O senhor gostaria de vê-la novamente?
- É só o que quero! Eu também, apesar de ter-me casado com Marilda, uma grande mulher, nunca esqueci Letícia... Foi minha primeira namorada e teríamos nos casado se não fosse a nossa juventude arrebatada e a intransigência dos nossos pais, que não souberam nos dar apoio naquela ocasião.
O encontro com Letícia foi emocionante: choravam e se abraçavam intensamente. Quem mais vibrava era Lívia, a menina moça que realizara seu sonho, o mais sonhado... Celso, com tanta felicidade, deu um pontapé na depressão e foi morar com a família, agora numerosa: Letícia, sua amada, Lívia, sua querida filha , sua sogra Dona Lúcia e a tia julieta...
Em agradecimento, foram todos ao cemitério, rezar pela alma de Marilda e agradecer-lhe pela bondade sublime que teve, antes de morrer, a idéia de aproximá-los...
“Celso, o solitário, agora é o mais feliz do pedaço.”



PARECIA SER...MAS NÃO ERA. - Contos




Tudo começou, quando nos preparativos do aniversário dos dezoito anos de Marluce, Ela recebeu a notícia de que seu namoradinho de infância, Rafael, filho de uma amiga de sua mãe, Helena, do tempo do Ginásio, viria para o Rio...
Não o via desde os doze anos de idade, mas no cantinho do seu coração, mantinha a esperança de um dia voltar a vê-lo e poderem retomar aquele namoro infantil que, para ela, era guardado em segredo, principalmente para seus pais.
Moravam distante, Ela no Rio, Ele na Bahía, onde cresceu e, sem mais notícias, ficaram longo tempo sem se verem... Nos seus devaneios, Marluce imaginava-o um rapaz com vinte e dois anos, bonito, gentil, amoroso, o tipo de homem que ocupou seu coração durante todo o período em que ficaram afastados.
Marluce era romântica, de uma beleza suave, um pouco tímida. Namorado, nem pensar, só estudava e sonhava com o seu príncipe...
Quando soube da chegada de Rafael, não se continha de alegria, suas faces coradas, dava-lhe a certeza de que seria esse o aniversário mais feliz de sua vida. Entretanto, tinha que disfarçar o seu entusiasmo para que seus pais não percebessem... Escondia dos pais esse sentimento por vergonha; religiosos ao extremo, pessoas tradicionalmente educadas com princípios morais arraigados. A jovem tentou, algumas vezes, dialogar com sua mãe, sobre as coisas do amor, porém Helena, pensando estar protegendo a filha, postergava esse momento para o dia em que Marluce estivesse para casar...
A chegada de Rafael e de sua mãe Rose , veio através de um telefonema que Helena recebera, na véspera do aniversário:
- Helena! Ô querida! Quem está falando aqui é Rose, sua amiga do Ginásio... Lembra?...
- Claro que me lembro, Rose. Como é que vai? Há quanto tempo!!!...
- É mesmo, quantas lembranças temos daquele tempo, né Helena?... Mas o motivo que me move, é o seguinte: tenho um tio muito querido aí no Rio que está doente, tem passado muito mal e nós, eu e meu filho Rafael, gostaríamos de visitá-lo...Só tem um porém, soubemos disso ontem e não deu tempo de arranjarmos local para ficar... Se você e seu marido não se incomodarem de nos receber em sua casa por poucos dias, ficarei eternamente agradecida. Prometo que não atrapalharemos...
- Fique tranquila, Rose, teremos imenso prazer em tê-los aqui ... Assim, nem preciso convidá-los para o aniversário da Marluce; amanhã ela completa dezoito anos e faremos uma festinha para parentes e amigos mais íntimos...
- Obrigada, Helena, pelo favor que me faz... Chegamos hoje mesmo, à noite...
Para Marluce, o dia não passava, tal era a sua ansiedade... Seus pais estranhavam aquela euforia; normalmente, a filha era tranquila, dificilmente deixava extravasar sua alegria, principalmente na frente dos pais, que lhe dedicavam um amor opressivo demais . Para eles, uma mocinha tem que ser educada, rir moderadamente, sem exagero, para não parecer fútil, oferecida, imoral...
À noite, de mala e cuia, chegaram os visitantes baianos. Rafael, de calça jeans, desbotada e rasgada, uma camisa de listras verdes, com barba e cabelo por fazer. Rose trajava saia estampada com rosas vermelhas e blusa também vermelha tomara-que-caia. Tudo nela era vermelho, inclusive os cabelos, avermelhados e os lábios com um vermelho carmim muito forte.
À primeira vista, Marluce decepcionou-se um pouco. Sabia que seu pai não iria apreciar pessoas assim tão extravagantes. Trataria de convencê-lo que o povo baiano é de oura cultura, mais extrovertido, alegre, carnavalesco, diferente de nós, mas nem por isso, menos honesto... Ante a argumentação da filha, “concordou” que os receberia bem, para não estragar a festa . Por um momento, Helena pensou também, que aquele convite não viera em boa hora, dada a intransigência do marido. Seu receio era que Pedro, muito impulsivo, não resistisse e os expulsasse da festa. Por isso, mesmo, antes que o marido os vissem, Helena chamou-o à parte e explicou-lhe os motivos que a levaram a concordar com a estada deles em sua casa:
- Pedro, meu querido, sei que você vai estranhar em termos em casa a Rose e o seu filho Rafael. Creia, porém, que são pessoas do bem, estudamos juntas no Ginásio e ela sempre demonstrou ótima índole: era boa aluna, adorava crianças, educada com todos, tínhamos muitas coisas em comum, daí a tornarmo-nos grandes amigas... Quando casou e com o Rafael já rapazinho, mudou-se com o marido e o filho para a Bahía e lá moram até hoje... De lá para cá, pouquíssimas vezes, nos falamos, assim mesmo, só por telefone.
- Está bem, Helena. Você me convenceu... Vou respeitar o pedido de vocês... Estou, até curioso para conhecê-los.
No jantar, Pedro, finalmente, pode conhecer os visitantes. Mãe e filho, muito falantes, facilmente e sem constrangimentos, agradeciam pela boa acolhida, com elogios rasgados ao casal e à aniversariante. E assim, Helena, foi dormir mais tranquila...
Tudo pronto para a festa, os convidados começavam a chegar com presentinhos delicados , muitos abraços, desejando muitas felicidades para a aniversariante e parabéns aos pais pela refinada educação dada à filha única. A maioria dos convidados, era constituída por pessoas da família e os demais, grande parte, amigos que frequentavam a mesma igreja do casal. Tudo muito moderado. A exceção eram os amigos baianos que, embora mais contidos na maneira de se vestir, em contrapartida divertiam-se e divertiam, também, outros convidados mais abertos às brincadeiras dos dois... Os menos preconceituosos, deixando de lado a calmaria da festa, colocaram, então, a música que era esperada e que animaria aquela festa enjoada e sem brilho... Foi quando Rafael convidou Marluce para dançar...
Sob o olhar severo do pai, a princípio pensou em adotar uma postura sóbria, como era costume. Entretanto, não resistindo à alegria exuberante de Rafael, que fazia-a rir com gracejos, rodopiava com ela nos braços, enfim, em pouco tempo, viu-se dando boas gargalhadas, com as palavras engraçadas que ele balbuciava no seu ouvido .Marluce nunca pensou que pudesse se divertir tanto!...
Depois da festa, já no quarto, Helena e Pedro conversavam sobre o evento:
- Você viu, Helena? Que figuras hem?
-Não os leve a mal, Pedro... São pessoas alegres, com aquela vontade de viver intensamente, um pouco diferente de nós. Com a mudança para a Bahía, era natural que mudassem seus hábitos, mas é gente boa...
- Espero que você tenha razão... Mas quero saber quantos dias ainda ficarão aqui na nossa casa, desarticulando a tranquilidade da nossa família... E olhe uma coisa: você notou como o tal Rafael, olhava para nossa filha?... Não gostei nem um pouco!...
- Não seja maldoso, Pedro! Não vi maldade alguma, somente dois jóvens dançando alegremente... Logo, logo irão voltar para casa...
- Espero que sim!!!
No dia seguinte, Rose e Rafael foram ao hospital visitar o tio e voltaram radiantes com a boa notícia: tio José estava de alta e amanhã, mesmo, voltaria para casa!
- Helena, nem sei como agradecer a vocês pelo acolhimento! Na volta do hospital, passamos por uma loja e compramos o presentinho da Marluce. Onde está ela?
- No quarto, estudando... Este ano, ela presta vestibular para medicina...
- Que bom, Helena... Você tem uma filha maravilhosa! Rafael, também, gostou muito dela; é pena que já tem uma noiva na Bahía, esperando por ele...
- Por favor, vá chamá-la para nos despedirmos...
Marluce recebeu o presente e emocionada agradeceu, dizendo:
- Que lindo! Obrigada dona Rose, não precisava gastar tanto! Era uma correntinha de ouro, com um rubi, em forma de coração...
Rafael despediu-se, também, sem antes deixar endereço, telefone, E-mail, a fim de estarem sempre conectados.
Partiram sorridentes, com beijos e abraços, inclusive para Pedro, que estava trabalhando...
Depois da partida, Marluce pensou, mais tranquila, que aquela visita fora benéfica porque mostrou pra ela que aquele sonho de infância não existia mais. Foi-se com ele a obsessão que morou na sua cabecinha desde criança.
Agora, tinha-o como um amigo querido, desses que animam a nossa alma com a sua alegria... E ela pode, finalmente, dedicar-se somente, aos estudos ...
Terminando esta história, Pedro teve que reconhecer que fôra injusto e intolerante com os amigos de sua mulher...
- É por isso, Pedro, que nunca devemos prejulgar as pessoas pela maneira de se vestir ou de falar. Você julgou-os só por isso, ignorando o que há de bom no interior de cada um. O que você viu “parecia ser... mas não era”...