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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O DESTINO DE UM PORCO - Contos





“O DESTINO DE UM PORCO”
Pelos idos de 1950, minha irmã Maria, foi pedida em casamento, com tudo que tinha direito: um pedido formal aos meus pais e regado a champanhe. Naquela época, eu não passava de uma adolescente e era comum, adquirirem-se um animal a fim de ser sacrificado para a festa do casório...
Minha irmã, então, comprou um porquinho bebê, para criar e engordá-lo...
Meu pai fez, para ele, um chiqueiro ao lado da nossa casa e, ali, ele foi tratado com todo o carinho... Carinho esse, até excessivo, proporcionado por papai e por mim, que nos apaixonamos de cara pelo bichinho... Ele era uma gracinha! Quando nos aproximávamos, ele deitava-se de barriga para cima, para ser acariciado. Meu pai, já deixava, então, uma varinha para este fim, ao lado do chiqueiro...
E assim, o porquinho cresceu cercado de atenção e eu divertia-me brincando com ele, levando-o a passear no quintal . Aquele animal era dócil e feliz...
Em casa, tínhamos outros animais como: cachorros, gatos, galinhas mas, experiências com porcos, não. E eu que sempre fui apaixonada por bichos, comecei a sofrer antecipadamente, pelo dia fatídico... Toti, era o seu nome, agora um gorducho glutão!
O dia do enlace estava próximo! Resolvi então, enfrentar minha irmã:
- Você não vai matar o Toti! Eu não quero...
- Eu não, querida! Quem vai realizar o serviço é o vizinho aí do lado, o seu Alvaro...
Chorosa, apelei pro meu pai para que ele não deixasse e ele, disse-me, contido:
- Sinto muito filha! Mas... não posso te ajudar... Tu sabes que este animal veio para esse fim; só tua irmã pode reverter isto. E pelo que vi, ela está decidida... Sinto, também!
- Pois, então, vou sair de casa e só voltar à noite... Não aguentarei assistir tamanha crueldade...
Estava combinado que o seu Álvaro viria às 6,00 h. da manhã.
Aquela noite, fui dormir revoltada. Só pensava numa forma de salvar o pobre Toti... Ah! Lembrei... Havia no alto do nosso quintal, um abacateiro, uma árvore frondosa, onde eu costumava sentar-me sob sua sombra e ali ficava estudando ou lendo um romance de amor... Era o meu cantinho predileto... E, praticamente, só minha mãe sabia desse meu hábito.
Imaginei que me achariam facilmente mas, pelo menos, daria um pouco de trabalho...
Sempre fui tranquila, nunca dei trabalho pros meus pais; como não encontrei apoio, nem dos meus irmãos homens (03), resolvi que deixaria todos preocupados, já que ninguém se preocupara comigo e nem com o Toti. Como adolescente, achei-me no direito de fazer um ato de rebeldia... Sentia-me no direito!!!
Às 4,00 h da manhã, quando todos ainda dormiam, levantei-me, pé ante pé, fui ao chiqueiro apanhar o Toti. Amarrei uma corda no seu pescoço e subi, com ele para o quintal. Parecia estar sabendo da fuga pois subiu quietinho, sem fazer barulho... Levei, junto,
o meu cobertor e uma vasilha com água e lá , acomodei-me com ele, ao lado do cobertor...
Às 6,00h em ponto, Seu Álvaro bateu lá em casa; meus pais já estavam acordados e foram acordar, também, minha irmã; vendo minha cama vazia, perguntou pra mamãe:
- Mãe... Cadê a Thereza?
- Não sei para onde foi, mas ela avisou que sairia de casa para não assistir à ...........
- E... Onde está o porco? O chiqueiro está vazio... Disse meu pai, vindo do quintal.
- Pai, ela fugiu com o porco! Arrematou minha irmã...
- Não é possível, minha filha não faria uma coisa dessas... Defendeu, minha mãe.
Pronto! Estava formada a confusão; era isso que eu queria...
Seu Álvaro, não sabia se ficava ou se ía embora.
Meus irmãos, também, foram acordados para que me procurassem; saíram reclamando porque nem tiveram tempo de tomar café. Procuraram na vizinhança, em vão.
O carrasco estava prestes a voltar para casa, quando minha mãe lembrou-se do meu esconderijo...
Correram todos morro àcima; quando chegaram ao abacateiro, encontraram-me dormindo, com o Toti, do meu lado...
- Coitadinha da minha filha... Será que ela passou a noite toda no sereno? Falou minha mãe, preocupada...
- Merecia umas palmadas, isto sim!! Comentavam meus irmãos...
E assim ficou tudo resolvido... O DESTINO DO TOTI estava selado...
Meu pai e parceiro saiu, comigo, para a rua, a fim de não escutarmos os gritos do pobrezinho...
O casamento civil ocorreu pela manhã e em seguida o almoço, servido para os mais íntimos e cuja iguaria principal, era a carne de porco cheirosa, que enchia de água, a boca dos comensais. Cada vez que eu olhava para aquele tabuleiro, meu estômago embrulhava e eu saía correndo... Jurei, naquele dia que nunca mais comeria carne de porco...
À noite, no casamento religioso, os noivos receberam a bênção, numa cerimônia bonita, com o sermão simpático do Padre José...
Como é de praxe, toda a mãe da noiva que se preze, deve deixar rolar umas lagrimas; Enquanto minha mãe chorava de emoção, eu chorava de raiva...




Atenção: Essa história ocorreu quando eu tinha 16 anos e afirmo que, embora eu a tenha fantasiado um pouco, ela realmente aconteceu. 

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