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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

UMA HISTÓRIA TRISTE - Contos




Maurício acabara de sair da casa de Marilena, sua noiva. Estava desesperado! Não conseguia entender porque sua adorada Marilena havia rompido o noivado, assim, sem motivo aparente, sem briga, nada que a levasse a esse extremo...
Há tempos, vinha notando que Marilena andava pensativa, um tanto nervosa, mas julgava estar sua noiva triste por ter perdido seu querido irmão, Júlio, num acidente de carro.
Mas isso não justificava o rompimento do seu noivado, que já durava dois anos, num romance recheado de planos para o futuro, procurando uma linda casa, que não fosse de luxo, mas que tivesse um quintal, onde os filhos, que pretendiam ter, pudessem brincar e correr à vontade. Na rua, as lágrimas rolavam de seus olhos, banhando todo o seu rosto e a gola de sua camisa. Pensou em voltar para implorar que ela dissesse que aquilo era só uma brincadeira, mas não, ela fora taxativa, era definitivo... Amando-a intensamente, uma dor imensa invadiu seu coração e ele, num ímpeto, pensou em se matar... Mas como? Numa rua deserta, a única maneira que encontrou foi gritar e chorar copiosamente pela perda do seu amor...
Se pelo menos, tivesse alguém que pudesse abraçá-lo a fim de mitigar seu sofrimento... Sozinho, ali parado, encostou seu rosto no poste e assim ficou por longo tempo...
De repente, sentiu que alguém o segurava por trás, apalpando suas roupas e seus bolsos, dizendo: Perdeu, perdeu, meu chapa, fica quetinho, senão arrebento seus miolo! Maurício percebeu que estava sendo assaltado. Meio assustado, levantou os braços e deixou que o ladrão o revistasse. Ao encontrar pouco dinheiro, o ladrão, mandou que ele virasse de frente para procurar dentro dos bolsos do paletó e, nada mais encontrando, avistou o relógio de pulso.
- Hum! Legal, um relógio bunito! Vou levar... Vai tirando logo! Pelo menos, esse, vai me dá uma boa grana... Ué! Espera aí, tu tá chorando, meu chapa? Chora não! A vida é assim mermo, a gente não tem imprego, então temo que robar pra levá o leite das criança. Tu tá cum sorte, se tu não tivesse esse reloginho, eu ia usá a minha arma, de tão desesperado que tô... A mulher falou que se eu não levasse o leite dos minino, ela ia mi botá pra durmi na rua e ia arranjá outro homem pra sustentá ela e as criança. E você sabe, sou ladrão, mas adoro os meus minino e não quero perdê eles...
Maurício, diante desse desabafo, pediu para baixar os braços, no que o ladrão concordou, mas sempre com a arma apontada pra ele. Enxugando as lágrimas, perguntou se podia falar:
- Pode, mas fala depressa porque tenho que chegá em casa com o leite sinão os minino vão dormi cum fome...
- Quando você me abordou, quase desejei que me matasse...
- É mermo? Que isso? Por que tanta tristeza, um homem tão novo !!
- - Hoje, perdi o grande amor da minha vida. Meu coração estava sangrando de tanta dor, por isso desejei morrer. Agora, conhecendo a sua vida é que vejo que outras pessoas também passam por situações como a sua mas mantêm, embora tortuosa, uma vida amorosa com sua mulher e seus meninos . Procure trabalhar honestamente , esforce-se para manter a família que você ama...
- Aí moço, vou segui seu conselho... Na verdade, eu menti, eu não ia matá mermo, minha arma nem é de verdade, é um brinquedo que meus minino acharam na rua... Só não devolvo o relógio porque depende dele pra eu alimentar os meus guris...
- Não precisa devolvê-lo. Aprendi com você que temos de aceitar o que a vida nos oferece e tentar enfrentar os desafios com garra e perseverança... Hoje, perdi minha noiva, mas ganhei uma bela lição de vida, a sua. Mas gostaria de lhe dar outro conselho: _ Meu amigo, procure estudar para melhorar de vida. Assim, você consegue arranjar um emprego certo, com carteira assinada e com todos os direitos trabalhistas garantidos, mas isso depende de você... Espero que consiga levar uma vida honesta! Garanto que sua família vai sentir orgulho de você e, nunca mais, sua mulher vai colocá-lo pra dormir na rua...
- Obrigado, moço, gostei muito du sinhô! Vou correndo pra casa ver meus mininus. São dois mulequinho levados!!!...


JUSTINO E AS CABRAS - Contos




Seu Antônio Severino da Cruz (Seu Tonho), tem um pequeno sítio, onde cria cabras. É daí que tira a maior parte do seu lucro, criando-as para o abate. Além disso, cultiva frutas, legumes e verduras, que vende, aos domingos, na feira da cidade...
Vivia sozinho até dois anos atrás, quando conheceu dona Mariinha, uma viúva, pessoa simpática, sem eira nem beira, que se engraçou com ele, visando ter uma vidinha melhor.
Começando por ajudá-lo nos serviços da casa, lavando a sua roupa e fazendo a sua comida, acabou fisgando o velho solteirão e assim, os dois casaram-se.
Daí pra frente, a vida financeira do sítio melhorou, porque tendo sua mulher em casa para fazer o serviço, podia dedicar-se mais às suas cabras e à sua plantação... Entretanto, quando tudo parecia caminhar bem, seu Tonho recebeu um telefonema da Toninha, filha que tivera com uma prostituta, no lugar onde morou, antes de comprar o sítio... Na verdade, seu Tonho nem tinha muita certeza se a Toninha era mesmo sua filha. Deu-lhe o nome, mas pouco a visitava, esporadicamente, dava-lhe algum dinheiro e isso bastava para que não passasse como pai ausente. Amor, nem tanto. Sentia por ela, somente, um pouco de pena. Depois que Toninha arranjou um homem , amancebou-se com ele e o pai, então, eximiu-se de ajudá-la...
Mas, quando o telefone tocou, não foi para lhe dar boas notícias: a filha, chorando, pedia-lhe que a ajudasse porque o safado do marido dera no pé, deixando-a embuchada.
Seu Tonho, revendo o seu passado, sentiu que tinha obrigação de ajudá-la, mesmo porque ela ia lhe dar um neto e esse neto era o sonho da sua vida. Precisava dar continuidade à sua família, um herdeiro para tocar o seu sítio quando ele se fosse... Antes de dar a notícia à mulher, pensou no que seria a sua vida, depois do nascimento do guri. Imaginou mil coisas, inclusive trazer a filha e o neto para morarem no sítio... Assim ficaria mais tranquilo para cuidar e educá-lo para sua sucessão... Depois de tomar algumas providências com relação ao sítio, chamou a mulher:
- Mariinha: vou ter que ver minha filha mais a miúde... O marido abandonou-a com um filho na barriga. Ela tem esperança que ele volte mas, caso isso não ocorra, terei que visitá-la todos os dias para dar um suporte no que for preciso. Quero que esse neto nasça com muita saúde!!! Se possível, gostaria de trazê-lo para criá-lo aqui comigo... Mulher, o quê que você acha?
- E a mãe de sua filha, por onde anda? Perguntou-lhe a mulher...
- Ah, morreu, faz anos... A órfã, menina ainda, foi morar com a avó materna que, também, já faleceu. Depois se perdeu com o pai dessa criança e foi morar com ele. Já que tinha marido, parei de ajudá-la... O resto, você já sabe...
- Mas Tonho, o que vai ser do sítio?...
- Fique tranquila, Mariinha. Já contratei um peão para tratar das cabras e do cultivo, mas estarei aqui sempre à tardinha...
- Mas vai deixar o sítio na mão de um estranho?...
- Escute Mariinha... Tive ótimas referências dele. Chama-se Justino, é um peão forte, trabalhador e muito responsável. Já reservei, para ele ocupar, o quartinho lá nos fundos, próximo ao pasto, onde passa o córrego de água limpa. Soube, também, que é pau pra toda obra... Se tiver algum problema aqui dentro do sítio, como trocar uma lâmpada, consertar o chuveiro, sabe como é, coisas que as mulheres nunca sabem fazer, pode chamá-lo que ele faz.
- Tá bem, Tonho. Já entendi...
- Sabia que você ia entender... Enquanto isso, nas horas vagas, vá tricotando uns sapatinhos de bebê para o meu neto...
Nos dias subsequentes, quando chegava à casa, ia olhar as cabras e ficava satisfeito por vê-las bem tratadas e bem alimentadas, com as tetas abundantemente cheias. Com o cultivo, nem tanto, mas... nem sempre pode-se ter tudo perfeito, né?... _ pensava com seus botões_ admitia, até, em dar ao peão, um aumento no seu salário...
Dona Mariinha não tivera, ainda, a oportunidade de conhecer o tal peão. Curiosa, foi até o pasto e ficou escondida, atrás de uma árvore, observando-o, de longe... Pode ver que tinha músculos fortes, com várias tatuagens... Sentado na grama, de costas para ela, não podia ver seu rosto. Ademais, as cabras sentadas à sua volta, desfrutavam do solzinho da tarde e da carícia que Justino lhes distribuía. As adultas, chegavam-se mais perto, como a pedir carinho ou aconchego. De repente, Justino levantou-se e ela pode ver-lhe o rosto... Era jovem, podia ter, no máximo trinta anos...
Mas o que ela viu, jamais esperaria ver... Justino, já de pé, pegou por trás, a cabra Marieta, justamente a queridinha do marido, a que nunca seria vendida. Era a maior das cabras, branca e preta, mais branca do que preta e, acariciando-a, satisfez ali, mesmo, o seu instinto lascivo...
Sem ser vista, Mariinha voltou para casa, mas aquela cena, não lhe saía da cabeça. Estava excitada. Na cama, ao lado do marido, não conseguia dormir. Percebendo a insônia da mulher, Seu Tonho perguntou:
- Que é que você tem, mulher? Está com dor ou estressada...?
- Não, Tonho, meu mal é carência afetiva... Percebo que, depois que soube da perspectiva de ter seu neto, não liga mais pra mim... Nâo me procura mais, acho que não represento nada pra você...
- Nada disso, Mariinha... Entenda que essa viagem todo dia, deixa-me cansado e louco pra dormir. Minha filha está com gravidez de risco, não pode fazer esforço e tudo recai sobre mim. Já pensou se ela perde essa criança e o meu sonho? Vai pro brejo!...Credo em cruz!!
Mariinha teve que se conformar... Ultimamente, Tonho já não se interessava muito por sexo ; só fazia planos de como criar e educar o netinho. Sim... porque era, mesmo, um menininho que iria nascer e ele estava feliz...
Enquanto relegada pelo marido, Justino satisfazia-se com as cabras. Era realmente uma situação esdrúxula... Seus pensamentos envolviam-na como se estivesse naqueles braços, sorvendo a deliciosa ventura de tê-lo só pra si... Sentia ciúmes daquelas cabras, passara a odiá-las , não tinha cabimento, com um marido frouxo que não dava mais no couro e ela ali, morrendo de paixão pelo Justino, o Peão. Um vazamento na pia do seu banheiro foi a oportunidade que surgiu para atraí-lo. Chamou-o e ele, prontamente se propôs a resolver o problema para ela...
Justino, como sempre prestativo, logo que chegou ao sítio perguntou onde era o vazamento:
- É aqui no banheiro do meu quarto. Venha... Por favor...
Compenetrado no seu trabalho, nem percebeu que ela o rodeava, vestida com uma camisola transparente. Mas, ao terminar o trabalho, pelo olhar malicioso de Mariinha e pelo , andar cadenciado, captou que ela o estava tentando... Então falou:
- Patroa, a senhora aí, com essa camisola... Por que? O seu marido está para chegar?
- Não Justino, coloquei-a para você... Não gosta?
- Gosto né, dona... mas não posso fazer isso... A senhora é mulher do meu patrão e eu não posso fazer uma traição dessas... Além do mais, não quero perder meu emprego. Logo agora que arrumei esse trabalho, com carteira assinada e tudo. Ainda tenho o meu quartinho que o Patrão me deu para morar e assim poder ficar perto das cabras, minhas amigas...
- Não seja bobo! Meu marido só chega à noite... Temos a tarde toda para nós dois... Antes que Justino fugisse, ela o agarrou, jogou-o sobre a cama e lançou-se sobre ele como se fosse uma onça esfomeada... Sem forças para resistir e, não tendo alternativa , tomou-a e, abruptamente, satisfez o desejo daquela louca desvairada... Arrependeu-se logo:
- Não devia ter feito isso... Estou traindo o meu Patrão e estou arrependido...
- Pois eu, não me arrependo... Meu marido não liga mais pra mim, só pensa no netinho que vai nascer... Então, não se culpe... Mas, da próxima vez, tome um banho e não venha fedendo a bode...
- Não haverá próxima vez. A senhora pegou-me desprevenido e isso, não vai se repetir...
Mariinha preferiu não argumentar. Sabia que teria outras oportunidades, nem que tivesse que procurá-lo no quartinho...
Nessa noite, seu Tonho trouxe uma novidade, não muito alvissareira: seu genro voltou para a filha , pediu milhões de perdões e os dois se acertaram.
Seu Tonho, agora, mais presente, ficou mais difícil para Mariinha ter, de novo, o Justino. Mas não titubiou, no domingo, assim que o marido saiu para a feira, foi ao quartinho do Justino, tentá-lo novamente. Desta vez, ele reagiu severamente e a expulsou, chamando-a de adúltera, traíra e etc...
Mariinha não esperava essa reação do Justino..._ Ora essa, trocar-me pelas cabras mas, vai ter troco, vou me vingar...
Assim que o marido chegou da feira, no domingo, Mariinha foi logo dedurando:
- Sabe Tonho, o que eu descobri ? Que o seu empregado usa as cabras para fazer saliência?...
- kkkkkkkkkk... Ah, é isso? Que novidade! Todo peão, na roça tem esses costumes. Não liga não, mulher, finge que não vê
- Mas é um indecente...
- Não, aqui é comum, você viu como as cabras estão bem tratadas e felizes? Agora, vou avisar uma coisa: se eu souber que ele faz isso com a minha Marieta, ponho-o no olho da rua!!!...
Mariinha vibrou! Já possuía a arma que precisava para chantageá-lo. Daí em diante, ela o teria na mão, desculpe, na cama. Justino, para não perder o emprego, não teve escolha: tornou-se o amante da patroa... Forçado, é claro, porque ele não gostava mais dela do que das cabras e, por vingança, também, nunca tomava banho, vinha sempre fedendo a bode...
Vez por outra, Mariinha pensava no ciúme que o marido tinha da sua querida cabra Marieta e ficava a dúvida: _ Será que ele, também, mantinha um romance com ela, antes de me conhecer?_ Nunca soube...



RENÚNCIA - Contos




Dois irmãos Márcio e Marcelo são gêmeos idênticos. Nasceram de um mesmo óvulo e, por serem extremamente parecidos, fica difícil a identificação de cada um...Até mesmo a família costuma confundir-se dada a semelhança física. que existe entre eles. Além de irmãos, são grandes amigos, estão sempre em sintonia, um com o outro. Entretanto, pessoalmente, são bem diferentes: Marcelo é extrovertido, brincalhão, gosta de se divertir, tem uma legião de amigos e de moçoilas, suas fãs, que o convidam para festas e ele está sempre aberto para os amigos, em geral. É estudioso, mas isso não o impede de se divertir... Já Márcio, é tímido e recatado, dedica-se muito aos estudos. Diferente do irmão, ele prefere ouvir música romântica, ler poesias... Por isso mesmo, prefere permanecer em casa, ao invés de sair para tomar umas cervejinhas ou ir à festas que não lhe agradam... Mas Marcelo, sempre insiste:
- Ô meu irmão! Deixa de ser careta! Vamos à festa na casa da Carol, hoje à noite... Ela faz aniversário e nos convidou. Quer conhecê-lo, de tanto que falo de ti... Lá, é gente boa, tu vás gostar, além disso, tenho uma surpresa pra te contar, quando chegarmos à festa...
Márcio hesitou mas, não contendo a curiosidade, resolveu aceitar:
- Está bem, mas vou só porque me deixaste curioso...
- Que bom, fica certo que vamos ao encontro de pessoas maravilhosas...
- Espero que não sejam aquelas piriguetes que não têm um assunto que preste...
- Claro que não; se não gostares, nunca mais te convido...
E assim, tendo o irmão querido, por perto, Marcelo , apesar de parecer forte e decidido, sentiu medo da decisão que iria tomar, ao chegar à casa de Carol. Afinal era um momento difícil para ele e, com Márcio, seu irmão, mais centrado e comedido, sentir-se-ía com mais coragem para fazer o que pretendia...
A casa de Carol era bonita, assim toda iluminada e a impressão que dava era a de que ali residiam pessoas refinadas, mas simples no trato e isso, deixou-os bem à vontade...
Carol recebeu-os com um sorriso tímido, emoldurado por um olhar carinhoso e acolhedor. Era simples no vestir e, no pescoço, apenas uma gargantilha dourada...Tinha a pele morena- clara e os cabelos negros encaracolados. Márcio, ao ser apresentado a Carol, sentiu um forte aperto no coração que o deixou sem fôlego; tímido do jeito que era, só conseguiu pronunciar uma palavra: prazer...
A seguir, foi a vez de apresentá-los aos pais de Carol. Era um casal distinto, que os agraciou com o estilo agradável das pessoas que bem sabem receber, convidando-os para conhecer os outros convidados. Márcio e Marcelo, após as apresentações, em pouco tempo, já estavam engajados naquele grupo agradável, tanto de jovens como de adultos. Marcelo era o mais falante e, não demorou, já falava com todos, enquanto Márcio, sentado numa poltrona da varanda, não tirava os olhos de Carol. Enquanto a olhava, sentia que Ela, também, correspondia aquele olhar lânguido, de apaixonado. Fechava os olhos e sonhava com Ela nos braços, os dois juntinhos, passeando pela praia, trocando juras de amor...
Num dado momento, Marcelo dirigiu-se ao pai de Carol, Sr. Alfredo e disse que gostaria de conversar com ele, tendo como testemunhas, somente, sua esposa, Dona Leila, a Carol e o seu irmão, Márcio... Sr. Alfredo, então, convidou-os para seu escritório e lá, iniciou-se o seguinte diálogo:
- Sr. Alfredo, não sei se a Carol já lhe falou sobre nós, mas o certo é que nos conhecemos há pouco tempo e começamos a namorar; como não gosto de nada escondido, aproveito esta ocasião para pedir ao senhor e à Dona Leila, que concedam-me a honra de namorá-la e frequentar a sua casa... nos dias em que o senhor determinar, é claro...
- Marcelo: minha esposa Leila já havia conversado comigo e, baseado nas informações da Carol, achamos que você merece, mesmo, o nosso apoio e, quem sabe, mais tarde, a nossa bênção?...
- Obrigado, Sr. Alfredo! A Carol fala-me muito bem sobre o senhor... Sabia que podia contar consigo e com a Dona Leila...Muito obrigado!...
Chegando à casa, Marcelo percebeu que Márcio estava diferente...Irritadiço, fugia às conversas, isolava-se num canto, meditativo ou, então, entregava-se aos estudos e aos livros. Começou a fazer poesias tristes sobre o amor, ora lamentando um amor impossível, ora clamando pelo amor que não aconteceu, chegou, mesmo, a rogar a Deus que lhe desse forças para esquecê-la porque ela não lhe pertencia, etc...
A princípio, Marcelo não deu muita importância à atitude do irmão. Márcio sempre fora fechado, trancava-se no quarto, quando tinha algum problema mas, com ele, era diferente. Como irmãos e grandes amigos, sempre conseguia arrancar dele seus problemas e juntos, conversavam, às vezes, até altas horas...
Dias depois, Marcelo percebeu que seu computador estava com defeito. Tendo um trabalho urgente, foi ao quarto do irmão e lá, ele descobriu o motivo da tristeza de Márcio: pelas poesias no computador, Marcelo percebeu que Márcio estava perdidamente apaixonado pela sua namorada, a Carol... Por coincidência, Carol, também, sempre perguntava por ele, ficava com o pensamento distante desde o dia em que ela o conhecera...Remexendo a sua memória, lembrou que Márcio, também, mudara desde o dia da visita à casa dos pais da Carol.
- Pobre do meu irmão, como tem sofrido! Como poderia dizer-me que amava a minha namorada? Jamais confessaria...
Sem falar nada para o irmão, resolveu abrir mão daquele namoro, inventou uma desculpa qualquer pra ela, pediu desculpas aos pais e deixou o caminho livre para o grande amor da vida do irmão querido...


O SOLITÁRIO - Contos




De cabeça baixa, Celso descia a pequena escada do seu quarto com o semblante abatido: sua cabeça girava, não conseguia organizar suas idéias. Lembranças antigas surgiam em sua mente, trazendo de volta uma estória do passado que há muito tentava esquecer; mas estava ali, na sua frente, sorrindo para ele com meiguice no olhar, como a encontrar o sonho dourado da sua vida, a dádiva divina que acalentou desde menina... Conhecer seu pai...
Remoendo o passado, Celso procurava lembrar-se do dia em que Letícia procurou-o, chorando muito, dizendo estar grávida. Não tinha coragem de contar em casa. Tinha medo do pai, um homem grosseiro que espancava a esposa e a filha, também, não recebia, sequer, a atenção e o carinho do pai. A mãe, sempre submissa, embora amando a filha, não tinha forças para protegê-la...
Impactado com a notícia, Celso, um adolescente inseguro, com dezessete anos, pediu-lhe que tirasse aquela criança, pois não tinham condições de criá-la; ambos estudavam, ainda, no colegial...
Letícia, sentindo-se desprotegida mas, com a força do sentimento materno, resolveu ter aquele bebê, custasse o que custasse, mas não mataria seu filho... Contando com o apoio da mãe, Letícia resolveu partir para a cidade onde sua tia e madrinha morava, sabendo que lá receberia o apoio que necessitava... Assim o fez, foi recebida com carinho pela tia e quando sua filhinha nasceu, a mãe, cansada da vida de sofrimento, resolveu, também seguir o mesmo caminho e foi encontrar-se com a filha e com a netinha... Deixou para trás o marido mal-humorado que só fazia reclamar e xingar.
Enquanto isso, Celso, procurando uma forma de contornar a situação que ele e sua namorada, por imprudência, haviam provocado, recorreu aos pais, pedindo-lhes ajuda, mas esses, também, por intransigência, omitiram-se...
- Quem tem suas cabras, que as prendam!..._ diziam...
Celso ainda procurou Letícia para tentarem uma fuga, mas chegou tarde... Ela já havia partido sem avisá-lo... A partir daí, sua consciência virou um redemoinho: um misto de alívio e, ao mesmo tempo, de remorso. Para ele, as noites pareciam mais longas... Quando conseguia pegar no sono, sonhava com choro de criança, um choro triste, martelando os seus ouvidos... E assim, por um longo tempo, Celso sofreu por ter abdicado de seu filho, mas procurava justificativa:
- Deus há de me perdoar; eu tentei, mas ela não soube esperar... Não posso ficar sofrendo a vida toda, tenho que estudar e me formar... Mais tarde, quem sabe a gente se encontra? Vou procurar esquecer, para que eu possa continuar minha vida num ritmo normal. Nada melhor do que procurar outros relacionamentos e me divertir...
Anos mais tarde, Celso casou-se com Marilda e foi feliz. Ficaram casados quinze anos, mas, por sorte do destino, não tiveram filhos... Sua esposa era bondosa e sempre o incentivava a procurar o filho ou filha que não conhecera... Mas Celso relutava, mal sabia ele que sua esposa tinha pouco tempo de vida... Até, então, não desconfiava, porque Marilda frequentemente ia ao médico e tomava tantos remédios... Antes de morrer, Marilda escreveu para Letícia narrando o seu caso, pedindo que levasse o seu filho ou filha para conhecer o pai, pois garantia que ele sempre a amou e sofreu a vida toda pela sua insegurança e abandono...
Marilda faleceu. Só, com a sua solidão, Celso virou um nada, um autômato, que fazia as coisas essenciais e, a seguir, fechava-se na sua concha, mal comia e mal falava com as pessoas. Finalmente entrou numa depressão profunda, tornando-se o “SOLITÁRIO” do pedaço, como era conhecido.
Jogado numa cama, escutou a campainha tocar; só teve forças para falar:
- A porta está aberta, pode entrar...
- Com licença? Estou entrando... Onde está o senhor?... __perguntou com aquela voz de menina moça...
- Eu lhe conheço? __ não pai, mas vai conhecer... Sou Lívia, sua filha!
- O quê? Minha filha?? Não acredito... __ Celso levantou da cama entre feliz e assustado ao mesmo tempo, não sabia o que dizer... __ Estou aqui, no quarto, espere um pouco, vou me recompor... ( foi correndo ao banheiro, lavou o rosto, penteou o cabelo e trocou a camisa. Olhou-se no espelho; estava um lixo, a barba por fazer, parecia dez anos mais velho e, no entanto, tinha só trinta e oito anos...) Mas não podia deixá-la tanto tampo na sala, esperando-o... Abriu a porta e deu com o sorriso mais lindo que jamais vira. Tinha os olhos verdes da mãe, cabelo castanho claro, como o seu e era bela como uma rosa desabrochando!... Abraçou-a sorrindo, sorrindo muito, não parava de sorrir, abraçava-a de novo, pedindo-lhe perdão...
- Não precisa pai! Estou tão feliz de encontrá-lo que nem sei como expressar... Minha mãe, também, vai ficar tão feliz quanto eu ... Ela nunca o esqueceu. O senhor foi o único homem na sua vida. Não quis casar, dedicando-se exclusivamente ao trabalho a fim de me educar e ajudar minha tia e minha avó no sustento da casa. O senhor gostaria de vê-la novamente?
- É só o que quero! Eu também, apesar de ter-me casado com Marilda, uma grande mulher, nunca esqueci Letícia... Foi minha primeira namorada e teríamos nos casado se não fosse a nossa juventude arrebatada e a intransigência dos nossos pais, que não souberam nos dar apoio naquela ocasião.
O encontro com Letícia foi emocionante: choravam e se abraçavam intensamente. Quem mais vibrava era Lívia, a menina moça que realizara seu sonho, o mais sonhado... Celso, com tanta felicidade, deu um pontapé na depressão e foi morar com a família, agora numerosa: Letícia, sua amada, Lívia, sua querida filha , sua sogra Dona Lúcia e a tia julieta...
Em agradecimento, foram todos ao cemitério, rezar pela alma de Marilda e agradecer-lhe pela bondade sublime que teve, antes de morrer, a idéia de aproximá-los...
“Celso, o solitário, agora é o mais feliz do pedaço.”



PARECIA SER...MAS NÃO ERA. - Contos




Tudo começou, quando nos preparativos do aniversário dos dezoito anos de Marluce, Ela recebeu a notícia de que seu namoradinho de infância, Rafael, filho de uma amiga de sua mãe, Helena, do tempo do Ginásio, viria para o Rio...
Não o via desde os doze anos de idade, mas no cantinho do seu coração, mantinha a esperança de um dia voltar a vê-lo e poderem retomar aquele namoro infantil que, para ela, era guardado em segredo, principalmente para seus pais.
Moravam distante, Ela no Rio, Ele na Bahía, onde cresceu e, sem mais notícias, ficaram longo tempo sem se verem... Nos seus devaneios, Marluce imaginava-o um rapaz com vinte e dois anos, bonito, gentil, amoroso, o tipo de homem que ocupou seu coração durante todo o período em que ficaram afastados.
Marluce era romântica, de uma beleza suave, um pouco tímida. Namorado, nem pensar, só estudava e sonhava com o seu príncipe...
Quando soube da chegada de Rafael, não se continha de alegria, suas faces coradas, dava-lhe a certeza de que seria esse o aniversário mais feliz de sua vida. Entretanto, tinha que disfarçar o seu entusiasmo para que seus pais não percebessem... Escondia dos pais esse sentimento por vergonha; religiosos ao extremo, pessoas tradicionalmente educadas com princípios morais arraigados. A jovem tentou, algumas vezes, dialogar com sua mãe, sobre as coisas do amor, porém Helena, pensando estar protegendo a filha, postergava esse momento para o dia em que Marluce estivesse para casar...
A chegada de Rafael e de sua mãe Rose , veio através de um telefonema que Helena recebera, na véspera do aniversário:
- Helena! Ô querida! Quem está falando aqui é Rose, sua amiga do Ginásio... Lembra?...
- Claro que me lembro, Rose. Como é que vai? Há quanto tempo!!!...
- É mesmo, quantas lembranças temos daquele tempo, né Helena?... Mas o motivo que me move, é o seguinte: tenho um tio muito querido aí no Rio que está doente, tem passado muito mal e nós, eu e meu filho Rafael, gostaríamos de visitá-lo...Só tem um porém, soubemos disso ontem e não deu tempo de arranjarmos local para ficar... Se você e seu marido não se incomodarem de nos receber em sua casa por poucos dias, ficarei eternamente agradecida. Prometo que não atrapalharemos...
- Fique tranquila, Rose, teremos imenso prazer em tê-los aqui ... Assim, nem preciso convidá-los para o aniversário da Marluce; amanhã ela completa dezoito anos e faremos uma festinha para parentes e amigos mais íntimos...
- Obrigada, Helena, pelo favor que me faz... Chegamos hoje mesmo, à noite...
Para Marluce, o dia não passava, tal era a sua ansiedade... Seus pais estranhavam aquela euforia; normalmente, a filha era tranquila, dificilmente deixava extravasar sua alegria, principalmente na frente dos pais, que lhe dedicavam um amor opressivo demais . Para eles, uma mocinha tem que ser educada, rir moderadamente, sem exagero, para não parecer fútil, oferecida, imoral...
À noite, de mala e cuia, chegaram os visitantes baianos. Rafael, de calça jeans, desbotada e rasgada, uma camisa de listras verdes, com barba e cabelo por fazer. Rose trajava saia estampada com rosas vermelhas e blusa também vermelha tomara-que-caia. Tudo nela era vermelho, inclusive os cabelos, avermelhados e os lábios com um vermelho carmim muito forte.
À primeira vista, Marluce decepcionou-se um pouco. Sabia que seu pai não iria apreciar pessoas assim tão extravagantes. Trataria de convencê-lo que o povo baiano é de oura cultura, mais extrovertido, alegre, carnavalesco, diferente de nós, mas nem por isso, menos honesto... Ante a argumentação da filha, “concordou” que os receberia bem, para não estragar a festa . Por um momento, Helena pensou também, que aquele convite não viera em boa hora, dada a intransigência do marido. Seu receio era que Pedro, muito impulsivo, não resistisse e os expulsasse da festa. Por isso, mesmo, antes que o marido os vissem, Helena chamou-o à parte e explicou-lhe os motivos que a levaram a concordar com a estada deles em sua casa:
- Pedro, meu querido, sei que você vai estranhar em termos em casa a Rose e o seu filho Rafael. Creia, porém, que são pessoas do bem, estudamos juntas no Ginásio e ela sempre demonstrou ótima índole: era boa aluna, adorava crianças, educada com todos, tínhamos muitas coisas em comum, daí a tornarmo-nos grandes amigas... Quando casou e com o Rafael já rapazinho, mudou-se com o marido e o filho para a Bahía e lá moram até hoje... De lá para cá, pouquíssimas vezes, nos falamos, assim mesmo, só por telefone.
- Está bem, Helena. Você me convenceu... Vou respeitar o pedido de vocês... Estou, até curioso para conhecê-los.
No jantar, Pedro, finalmente, pode conhecer os visitantes. Mãe e filho, muito falantes, facilmente e sem constrangimentos, agradeciam pela boa acolhida, com elogios rasgados ao casal e à aniversariante. E assim, Helena, foi dormir mais tranquila...
Tudo pronto para a festa, os convidados começavam a chegar com presentinhos delicados , muitos abraços, desejando muitas felicidades para a aniversariante e parabéns aos pais pela refinada educação dada à filha única. A maioria dos convidados, era constituída por pessoas da família e os demais, grande parte, amigos que frequentavam a mesma igreja do casal. Tudo muito moderado. A exceção eram os amigos baianos que, embora mais contidos na maneira de se vestir, em contrapartida divertiam-se e divertiam, também, outros convidados mais abertos às brincadeiras dos dois... Os menos preconceituosos, deixando de lado a calmaria da festa, colocaram, então, a música que era esperada e que animaria aquela festa enjoada e sem brilho... Foi quando Rafael convidou Marluce para dançar...
Sob o olhar severo do pai, a princípio pensou em adotar uma postura sóbria, como era costume. Entretanto, não resistindo à alegria exuberante de Rafael, que fazia-a rir com gracejos, rodopiava com ela nos braços, enfim, em pouco tempo, viu-se dando boas gargalhadas, com as palavras engraçadas que ele balbuciava no seu ouvido .Marluce nunca pensou que pudesse se divertir tanto!...
Depois da festa, já no quarto, Helena e Pedro conversavam sobre o evento:
- Você viu, Helena? Que figuras hem?
-Não os leve a mal, Pedro... São pessoas alegres, com aquela vontade de viver intensamente, um pouco diferente de nós. Com a mudança para a Bahía, era natural que mudassem seus hábitos, mas é gente boa...
- Espero que você tenha razão... Mas quero saber quantos dias ainda ficarão aqui na nossa casa, desarticulando a tranquilidade da nossa família... E olhe uma coisa: você notou como o tal Rafael, olhava para nossa filha?... Não gostei nem um pouco!...
- Não seja maldoso, Pedro! Não vi maldade alguma, somente dois jóvens dançando alegremente... Logo, logo irão voltar para casa...
- Espero que sim!!!
No dia seguinte, Rose e Rafael foram ao hospital visitar o tio e voltaram radiantes com a boa notícia: tio José estava de alta e amanhã, mesmo, voltaria para casa!
- Helena, nem sei como agradecer a vocês pelo acolhimento! Na volta do hospital, passamos por uma loja e compramos o presentinho da Marluce. Onde está ela?
- No quarto, estudando... Este ano, ela presta vestibular para medicina...
- Que bom, Helena... Você tem uma filha maravilhosa! Rafael, também, gostou muito dela; é pena que já tem uma noiva na Bahía, esperando por ele...
- Por favor, vá chamá-la para nos despedirmos...
Marluce recebeu o presente e emocionada agradeceu, dizendo:
- Que lindo! Obrigada dona Rose, não precisava gastar tanto! Era uma correntinha de ouro, com um rubi, em forma de coração...
Rafael despediu-se, também, sem antes deixar endereço, telefone, E-mail, a fim de estarem sempre conectados.
Partiram sorridentes, com beijos e abraços, inclusive para Pedro, que estava trabalhando...
Depois da partida, Marluce pensou, mais tranquila, que aquela visita fora benéfica porque mostrou pra ela que aquele sonho de infância não existia mais. Foi-se com ele a obsessão que morou na sua cabecinha desde criança.
Agora, tinha-o como um amigo querido, desses que animam a nossa alma com a sua alegria... E ela pode, finalmente, dedicar-se somente, aos estudos ...
Terminando esta história, Pedro teve que reconhecer que fôra injusto e intolerante com os amigos de sua mulher...
- É por isso, Pedro, que nunca devemos prejulgar as pessoas pela maneira de se vestir ou de falar. Você julgou-os só por isso, ignorando o que há de bom no interior de cada um. O que você viu “parecia ser... mas não era”...




GABRIEL (O MENINO ANJO) - Contos





Carregando, com dificuldade, uma bolsa de couro, pesada, pendurada no braço esquerdo, o único que, por ser aleijado e imobilizado, não pode fazer outra coisa além disso... O direito fica encarregado de executar o seu serviço, qual seja: pegar as mercadorias que vende de casa em casa como linhas, agulhas, alfinetes, grampos, pregadores e outros como: sabonetes, cremes, shampoos, enfim, tudo o mais que naquela bolsa couber.
Apesar da paralisia que Gabriel teve na infância e que o deixou com um aleijão muito acentuado, ele carrega sua cruz, sem reclamar... Sua aparência física é de impactar! Seu corpo, todo deformado, a cada passo que dá, tende para o lado esquerdo. A boca torta, mal consegue pronunciar as palavras, mas Gabriel precisa trabalhar porque sua família é pobre e precisa da sua ajuda...
Independente da sua feiura, Gabriel, é conhecido e muito estimado pelas senhoras, suas freguesas que, uma vez por semana, o esperam com ansiedade procurando por pequenos, mas importantes objetos úteis para o lar e ele sempre os tem, para servi-las... Elas, até o apelidaram de “O menino anjo”. E por que isto? Simplesmente porque Gabriel , além da sua educação, conquista a todas com os seus olhos azuis da cor do céu, com um olhar terno e doce e tão brilhante que, diante dele, as pessoas nem percebem a sua feiura externa e se fixam naquele olhar carinhoso... Alguns até acreditam que Gabriel é, realmente, um anjo que veio ao mundo para mostrar às pessoas que todos podem ser felizes e ativos, independente da sua feiura ou dependência física...
Gabriel, também, tem um tesouro que é a sua inteligência para números. Quando efetua uma venda, sem calculadora ou outra ajuda qualquer, faz mentalmente os cálculos e dá ao comprador o troco certinho, sem errar um centavo sequer. Antes de pegar o dinheiro do freguês, entrega a mercadoria, faz o cálculo e com o braço direito, introduz a mão com os dois dedos, o indicador e o médio em forma de tesoura e retira, do bolso esquerdo, o troco. Quando o freguês, por pena, tenta deixar para ele o troco, faz, com a cabeça um sinal de recusa e com aquele olhar angelical, consegue apenas pronunciar: obrri-gaa-do!
Dona Cristina, uma das suas freguesas, pessoa do bem e muito caridosa, procurava por pessoas que conhecessem a história de Gabriel e trouxessem para ela a fim de ajudá-lo e a sua família... Não demorou e apresentaram-lhe um jóvem chamado Josias, primo de Gabriel e quase da mesma idade, dezoito anos.
Dona Cristina recebeu-o em sua casa com carinho, pediu que se sentasse e após oferecer-lhe uma água ou um suco, josias aceitou somente a água e perguntou-lhe:
- Soube que a senhora quer falar comigo... Posso lhe ajudar em alguma coisa?
- Pode sim, Josias. Esse é o seu nome, não é? E o meu é Cristina, muito prazer!
Dona Cristina viu logo que podia confiar naquele menino, tão simples e educado quanto Gabriel; por isso, foi direto ao assunto:
- Conte-me a história do Gabriel ... Quem são seus pais? Onde ele mora? Queria tanto ajudá-lo... Sei que ele precisa, embora não demonstre...
- Olhe dona Cristina, a história do Gabriel é muito triste e eu prefiro que a minha mãe venha lhe contar. Ele não tem mãe nem pai e mora com minha mãe e comigo. Amanhã vou trazê-la aqui para a senhora conhece-la...
- Está bem, Josias, ficarei esperando ansiosa. Obrigada!
No dia seguinte, pela mãe de Josias, dona Eliete, Cristina ficou sabendo da história do Gabriel e de todo o sofrimento por que passou pela maldade e ganância de um homem cruel que foi seu padrasto. Dona Eliete começou sua narrativa assim:
- A mãe de Gabriel, minha querida irmã Leila, era casada e feliz. Quando Gabriel estava com dois anos de idade, seu pai Pedro Paulo faleceu, de repente, do coração. Minha irmã sofreu muito com a viuvez, mas era forte e financeiramente independente; Além de possuir alguns bens deixados por seu marido, tinha também, um bom salário como profissional competente na firma em que trabalhava. A certeza de que possuía um bom futuro para ela e para o filho, deixava-a tranquila, não admitia, em hipótese alguma, a possibilidade de casar-se novamente. Mas, o destino é traiçoeiro! Colocou na vida de minha irmã um homem bonito, de voz macia que tudo fez para conquistar sua confiança. Como advogado novo na Empresa em que Leila trabalhava, viam-se todos os dias e, aos poucos, a convivência entre os dois foi aumentando até que, num dado momento, Leila convenceu-se de que poderia aceitar, sim, a corte daquele homem gentil e que demonstrava sentir, por ela e por Gabriel, um sentimento puro e verdadeiro...
João de Deus Rodrigues , esse é o nome do bandido que casou com minha irmã. Durante algum tempo, João de Deus demonstrou ser o bom e dedicado marido; com isso, foi adquirindo mais e mais a confiança de Leila. Com um ano e meio de casados, Leila começou a sentir-se cansada, sem ânimo e, após exames médicos, foi diagnosticado um câncer no pâncreas. Durante o tratamento de Leila, Gabriel começou a sentir os sintomas da paralisia. Seu padrasto, alegando tratar da esposa, dizia ou fingia não ter percebido a doença do Gabriel. E Leila, já no seu estado terminal, não tinha ciência do mal que o acometia e morreu logo depois, pensando ter deixado Gabriel em boas mãos... Puro engano...
Com a morte da minha irmã, o pobrezinho ficou à mercê do padrasto, que nem se preocupou em lhe dar um tratamento médico adequado e, por isso, Gabriel ficou assim, todo aleijado... Depois disso, pegou o menino e mudou-se para outra cidade. Lá, deixou-o largado num hospital como indigente, menino de rua, com pais desconhecidos. A seguir, mudou-se novamente de cidade e como marido da falecida, tomou posse dos seus bens, deixando para trás Gabriel, o verdadeiro herdeiro. Depois disso, ninguém mais soube dele...
Gabriel, tida como criança abandonada, viveu vários anos naquele hospital, onde foi tratado com carinho por todos os funcionários que o adotaram, não só por ser deficiente físico, mas também pela doçura daqueles olhos lindos, da cor do céu. Além de tudo, demonstrava inteligência e habilidade suficientes para se cuidar sozinho.
Do meu lado, procurei, durante vários anos, saber notícias do meu sobrinho, mas como não tenho posses, nunca consegui encontrá-lo; A assistência social do hospital, quando Gabriel já estava com doze anos, localizou-me e ele veio para minha casa. Foi uma alegria só, Gabriel é um ótimo menino, trabalhador e nos ajuda vendendo as miudezas que a senhora conhece. Sou uma pobre viúva, lavo roupa para fora e o meu Josué entrega jornais. Gabriel fez questão de trabalhar, também e assim, ele nos ajuda bastante...
Dona Cristina ficou estarrecida com a história de Gabriel e prometeu que os ajudaria. Como sempre, recorre ao Marido Doutor Fernando, excelente advogado que não sabe negar nada para a esposa.
Dessa história, soube-se, depois, que o bandido foi localizado pela Polícia Federal, indiciado, preso e condenado a devolver os bens de Gabriel e este, com sua inteligência matemática, fez uma faculdade em Administração de Empresa e finalmente Gabriel pode viver condignamente, usufruindo dos seus bens, junto à sua querida família...

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

DECEPÇÃO





Desiludido, desejou partir para bem longe... Mas foi parar em Madureira...
http://www.recantodasletras.com.br/microcontos/3482463

O SOFRIMENTO LEVOU-OS AO...........




Esta estória começa no consultório do Dr. Celso Lustosa, onde um casal de idosos, Seu Tadeu e Dona Angelina vão, todos os meses, às consultas agendadas. Dr. Celso é geriatra e nutre pelo casal um sentimento afetivo, uma vez que já se conhecem há muito e, para eles é, não só o medico, mas, também, o amigo e conselheiro.
Dr. Celso conhece profundamente todo o drama desse casal que ele admira pela lisura e educação e lamenta não poder ajudá-los mais do que gostaria... Mas acompanha, com dedicação, todo o processo de tratamento, em consonância com os outros profissionais inerentes...
Vamos à estória: Seu Tadeu e Dona Angelina possuem 4 filhos, sendo 3 biológicos e 1 adotado: 1) O mais velho, Lauro, 36 anos, vendedor fracassado; já casou 2 vezes e se separou. Todas às vezes que briga com as mulheres, volta para casa dos pais... 2) Lúcio, 34, solteiro, leva uma vida desregrada, não para nos empregos; acha-se sempre superior aos cargos que lhe são oferecidos, por isso, não para em nenhum... 3) Lucimar, 31, solteira, essa trabalha com marketing, mas vive reclamando de tudo.... E, por último, Helena, filha adotada, com 25 anos. Após terminar o 2º. Grau, optou por ficar em casa e ajudar Dona Angelina na lida diária pois sabe que Ela sozinha não dá conta de administrar uma casa tão grande e com tanta gente ociosa. Helena é pessoa do bem e tem adoração pelos pais adotivos. Tem, ainda, o neto adolescente, filho de Lauro, criado, desde pequeno, pelos avós, chamado Leonardo, menino de boa índole mas um pouco triste, pois só encontra amparo e carinho por parte dos avós e de Helena que ajudou Dona Angelina a criá-lo.
Pelo exposto, parece uma família como todas as outras, com problemas, também, como todas as outras... Mas não é bem assim...
Dos irmãos biológicos, a filha Lucimar tem um ódio doentio da pobre Helena, a quem chama de intrusa, humilha-a constantemente, ofende-a, provoca-a, chega a agredi-la fisicamente:
- Sua negra metida, ainda vou acabar com a sua raça!
Humilde, Helena lhe implora:
- Que mal lhe fiz pra me odiar tanto?
- Fica aí dando uma de boazinha só para conquistar meus pais. Algum interesse você tem, pensa que não sei?
- Você está enganada... Não quero nada de vocês, só em ter o carinho deles, para mim foi tudo o que eu desejei e isso, graças a Deus, eu consegui e guardarei comigo a minha vida inteira...
E assim as provocações continuaram por muito tempo. Dona Angelina não tem mais forças para brecar as investidas da filha que, furiosa, a ofende, também...
Seu Tadeu tem a saúde mais fraca e, por isso, entra num processo de depressão profunda; pouco fala, fecha-se no quarto e não sai nem para comer... Dona Angelina sofre terrivelmente e chora sempre às escondidas, para não aumentar a tristeza do marido, que define a olhos vistos.
Voltemos, então, ao consultório do Dr. Celso: ao tomar conhecimento dos últimos episódios, com Dona Angelina afirmando que já não aguenta mais aquela vida, que está a ponto de ficar louca... Dr. Celso tenta acalmá-la:
- Em primeiro lugar, tente convencer Lucimar a fazer uma terapia, com um bom psiquiatra. Ela não está bem e assim pode levar todos ao sofrimento... Peça ajuda aos outros filhos para tentarem convencê-la, para o bem dela mesmo...
- Já tentamos, Dr. mas ela não nos ouve; diz que a estamos chamando de louca.
- Mas tente assim mesmo... Agora, com relação aos exames do Seu Tadeu, está tudo bem, coração, pulmão, colesterol, até a pressão está normal. Só precisamos tratar, agora, essa depressão... Procure afastá-lo sempre das discussões, leve-o a passear no jardim, olhar crianças brincando, isso é uma terapia que pode ajudar; sei que ele sempre amou as crianças.
- Vou receitar um tranquilizante para ele dormir melhor, a senhora também pode tomar. Mas cuidado, use exatamente conforme indicado na receita.
Dona Angelina voltou para casa um pouco menos ansiosa, mas quando deu com seu neto, Leonardo, sentado na varanda, pensativo, sentiu uma pena daquele pobre menino, tão relegado pelo pai e pelos tios; num lance de emoção abraçou-o chorando copiosamente:
- Que foi vó? Por que está chorando? O vô não está bem?
- Não é nada, meu anjo, o seu vô só está triste... Vá até lá no quarto, converse um pouco com ele e diga pra ele que você o ama muito...
- Está bem vó, eu vou. Mas eu amo muito a senhora também...
Naquela tarde, Lucimar, no trabalho, recebeu um telefonema de um dos irmãos avisando que os pais tinham feito um testamento incluindo a Helena , também, como beneficiária na herança...Bastou isso para acirrar mais ainda o ódio que sentia pela irmã adotiva. Dizendo impropérios para todos ouvirem no ambiente de trabalho, foi suspensa até que se tratasse, caso contrário, seria despedida.
Chegando à casa, num acesso de loucura, tentou agredir a irmã e esta, não conseguindo acalmá-la, fugiu para a rua pedindo socorro. Lucimar, então, começou a quebrar tudo que via pela frente, só sendo barrada pelos vizinhos, que a seguraram firme e esperaram a ambulância que a levou para uma clínica psicológica.
Na manhã seguinte, Helena chegou à cozinha e estranhou a falta de Dona Angelina; era ela, sempre a primeira a levantar e a preparar o café para todos . Não quis acordá-la, afinal o dia anterior fora terrível, era justo que ela descansasse bastante... Ela, mesmo, fez o café, arrumou a mesa e só pelas 9 h, os outros começaram a levantar e... nada de Dona Angelina... Às 10 h, resolveu ir ao quarto para perguntar se queriam que levasse o café para eles . Bateu. Não houve resposta; abriu a porta e o que ela viu deixou-a apavorada e, num grito lancinante, desmaiou.
Na cama, estavam os corpos do casal, mortos e abraçadinhos...
Na mesinha de cabeceira, além do vidro dos remédios vazio, havia um bilhete dirigido aos filhos, nos seguintes termos:
Amados filhos: pedimos perdão pelo nosso gesto, mas chegamos à conclusão que o nosso lugar aqui na terra, não tem mais sentido... Agora, compete a cada um de vocês seguir o caminho que vos foi ensinado por nós, não esqueçam que o vosso pai foi um exemplo e que deve ser seguido. Lauro e Lúcio, vocês que são os mais velhos cuidem bem da sua irmã doente e do meu neto ,que é ainda um adolescente inseguro e precisa de apoio e carinho. No nosso testamento, deixamos para a Helena, aquele sitiozinho na zona rural para que ela não fique desprotegida. Os bens restantes vão ser divididos entre vocês. Cuidem bem deles, afinal é um bom patrimônio. Achamos que Deus vai nos perdoar pelo nosso gesto e vocês também. Adeus e que Deus vos abençoem. Amém!








OS FRUTOS QUE NÃO CHEGAM - Contos





- Querido! Hu Hu! Daniela adentra à sala onde está Eduardo, seu marido, sentado no sofá, lendo o jornal.
-Que foi Daniela? Não vê que estou ocupado? Vê se não me amola...
- Oh, benzinho... Por que está me tratando assim? Não me ama mais?
- Não é isso... Mas eu aposto que você veio pedir alguma coisa...
- Não, não é nada disso ... Responde
- Então... O que é? Fale logo...
- Sabe o que é amor? Nosso casamento já dura oito anos e até hoje, não encomendamos o nosso bebê...
- Por que você quer isso agora? Perguntou...
- Nossos pais estão sempre me perguntando quando é que daremos a eles um netinho... Lembra, querido, que você sempre dizia que, quando casasse, queria ter uma turminha de moleques, para alegrar o nosso lar e o dos avós, também?
- Lembro sim, mas mudei de idéia...
- Como mudou de idéia?
- Depois lhe explico. Agora, deixe-me ler o jornal...
Daniela deu um muxoxo e se recolheu no quarto.
Eduardo (Edu) largou o jornal e, meditativo, ficou a pensar no dia em que começou o seu namoro, depois o noivado e, por último, o casamento. Era uma linda tarde de primavera e Daniela entrou na igreja com o seu vestido de noiva lindíssimo e com aquele sorriso amoroso que o deixava encantado! A igreja era a Candelária, onde os noivos receberam os cumprimentos dos parentes e amigos. Em casa, após celebrarem as bodas com fotos e, para complementar... O bolo com champanhe, partiram em lua de mel, felizes e cheios de sonhos...
A Lua de Mel, não podia ser melhor! Num sítio afastado, em contato com a natureza, os dois puderam aproveitar a tranquilidade do lugar simples e aprazível e ali eles gozaram os momentos e a magia daquele amor tão intenso!...
As duas famílias estavam felizes pois eram amigas, davam-se bem e já faziam lindos planos sobre o futuro do casal, augurando, para eles, belas crianças a encantar a família com traquinadas inerentes...
Mas o tempo foi passando e nada...
Dani e Edu moravam num apartamento moderno, com piscina, playground e com bastante espaço para crianças... Aí, estava o problema: CRIANÇAS!
As crianças do prédio faziam uma algazarra tremenda no pátio, à frente do apartamento do casal, no segundo andar. Edu é advogado e complementava seu trabalho do escritório, em casa e, para isso, era necessário silêncio, coisa quase impossível, com aqueles pestinhas... Algumas vezes, recorreu ao síndico, mas este era louco por crianças e ainda ajudava na bagunça... Edu, mais do que irritado, tomou horror às crianças...
Ao declinar de ser pai e, após revelar isso para Dani, ela não se conformou, gerando uma série de constrangimentos entre os dois; as discussões repetiam-se a toda hora e instante...
Desgostosa com o marido, Daniela reclamou com os sogros e estes se prontificaram a ajudá-la... Á noite, na casa do filho, o sogro de Dani, foi direto ao assunto:
- Edu, meu filho... Se o que está impedindo vocês de ter um filho é o barulho das crianças, então, eu proponho uma troca: como não há possibilidade, no momento, de comprarmos outro apartamento, sugiro o seguinte: eu e a mulher mudamos pro apartamento de vocês e vocês mudam para o nosso... Que tal?...
- Não é má idéia, mas acontece que, quem vai perder o sossego, são vocês que já estão com idade e não merecem isso...
- Quanto a isso, não precisam se preocupar; sua mãe e eu temos muita paciência com crianças, então não vai ser difícil...
Daniela , imediatamente, empolgou-se com a idéia e, em poucos dias, começaram aquela trabalheira de levar para lá o que é de cá e vice-versa... No final, deu tudo certo; a troca foi um sucesso, a nova moradia de Dani e Edu era um apartamento tranquilo, onde só moravam pessoas mais idosas, sem cachorros, nem crianças...

O tempo passou: dois anos e nada...
- Maria, _ disse o sogro à mulher: _ esses meninos daqui são, realmente, endiabrados. Imagina que quando peço e, peço com educação, que não façam muito barulho, eles me chamam de velho babão e gagá!
- E comigo, então, chamam-me de velha chata, coroca...
- E o pior, minha velha, é que até agora, nossa nora não engravidou...
- Qual será o motivo ? Nossa nora e nosso filho são saudáveis _ disse preocupada Dona Maria...

Por sugestão dos pais de Edu, resolveram fazer exames para saber as causas da infertilidade.
Uma caxumba que Edu teve na infância, deixou-o, inexoravelmente, estéril...

Pobre família... Está fadada a não se perpetuar, porque tanto Dani, como Edu, não possuem irmãos que possam suprir a carência dos avós, gerando filhos e , por conseguinte, netos... para dar continuidade à família.

É... A vida é um verdadeiro mistério. Há pessoas com pouquíssimos recursos que geram filhos a rodo... Enquanto outros, como Dani e Edu, que precisam formar uma família, mas não conseguem colher os “frutos" que o casamento propicia... Triste, né?




O DESTINO DE UM PORCO - Contos





“O DESTINO DE UM PORCO”
Pelos idos de 1950, minha irmã Maria, foi pedida em casamento, com tudo que tinha direito: um pedido formal aos meus pais e regado a champanhe. Naquela época, eu não passava de uma adolescente e era comum, adquirirem-se um animal a fim de ser sacrificado para a festa do casório...
Minha irmã, então, comprou um porquinho bebê, para criar e engordá-lo...
Meu pai fez, para ele, um chiqueiro ao lado da nossa casa e, ali, ele foi tratado com todo o carinho... Carinho esse, até excessivo, proporcionado por papai e por mim, que nos apaixonamos de cara pelo bichinho... Ele era uma gracinha! Quando nos aproximávamos, ele deitava-se de barriga para cima, para ser acariciado. Meu pai, já deixava, então, uma varinha para este fim, ao lado do chiqueiro...
E assim, o porquinho cresceu cercado de atenção e eu divertia-me brincando com ele, levando-o a passear no quintal . Aquele animal era dócil e feliz...
Em casa, tínhamos outros animais como: cachorros, gatos, galinhas mas, experiências com porcos, não. E eu que sempre fui apaixonada por bichos, comecei a sofrer antecipadamente, pelo dia fatídico... Toti, era o seu nome, agora um gorducho glutão!
O dia do enlace estava próximo! Resolvi então, enfrentar minha irmã:
- Você não vai matar o Toti! Eu não quero...
- Eu não, querida! Quem vai realizar o serviço é o vizinho aí do lado, o seu Alvaro...
Chorosa, apelei pro meu pai para que ele não deixasse e ele, disse-me, contido:
- Sinto muito filha! Mas... não posso te ajudar... Tu sabes que este animal veio para esse fim; só tua irmã pode reverter isto. E pelo que vi, ela está decidida... Sinto, também!
- Pois, então, vou sair de casa e só voltar à noite... Não aguentarei assistir tamanha crueldade...
Estava combinado que o seu Álvaro viria às 6,00 h. da manhã.
Aquela noite, fui dormir revoltada. Só pensava numa forma de salvar o pobre Toti... Ah! Lembrei... Havia no alto do nosso quintal, um abacateiro, uma árvore frondosa, onde eu costumava sentar-me sob sua sombra e ali ficava estudando ou lendo um romance de amor... Era o meu cantinho predileto... E, praticamente, só minha mãe sabia desse meu hábito.
Imaginei que me achariam facilmente mas, pelo menos, daria um pouco de trabalho...
Sempre fui tranquila, nunca dei trabalho pros meus pais; como não encontrei apoio, nem dos meus irmãos homens (03), resolvi que deixaria todos preocupados, já que ninguém se preocupara comigo e nem com o Toti. Como adolescente, achei-me no direito de fazer um ato de rebeldia... Sentia-me no direito!!!
Às 4,00 h da manhã, quando todos ainda dormiam, levantei-me, pé ante pé, fui ao chiqueiro apanhar o Toti. Amarrei uma corda no seu pescoço e subi, com ele para o quintal. Parecia estar sabendo da fuga pois subiu quietinho, sem fazer barulho... Levei, junto,
o meu cobertor e uma vasilha com água e lá , acomodei-me com ele, ao lado do cobertor...
Às 6,00h em ponto, Seu Álvaro bateu lá em casa; meus pais já estavam acordados e foram acordar, também, minha irmã; vendo minha cama vazia, perguntou pra mamãe:
- Mãe... Cadê a Thereza?
- Não sei para onde foi, mas ela avisou que sairia de casa para não assistir à ...........
- E... Onde está o porco? O chiqueiro está vazio... Disse meu pai, vindo do quintal.
- Pai, ela fugiu com o porco! Arrematou minha irmã...
- Não é possível, minha filha não faria uma coisa dessas... Defendeu, minha mãe.
Pronto! Estava formada a confusão; era isso que eu queria...
Seu Álvaro, não sabia se ficava ou se ía embora.
Meus irmãos, também, foram acordados para que me procurassem; saíram reclamando porque nem tiveram tempo de tomar café. Procuraram na vizinhança, em vão.
O carrasco estava prestes a voltar para casa, quando minha mãe lembrou-se do meu esconderijo...
Correram todos morro àcima; quando chegaram ao abacateiro, encontraram-me dormindo, com o Toti, do meu lado...
- Coitadinha da minha filha... Será que ela passou a noite toda no sereno? Falou minha mãe, preocupada...
- Merecia umas palmadas, isto sim!! Comentavam meus irmãos...
E assim ficou tudo resolvido... O DESTINO DO TOTI estava selado...
Meu pai e parceiro saiu, comigo, para a rua, a fim de não escutarmos os gritos do pobrezinho...
O casamento civil ocorreu pela manhã e em seguida o almoço, servido para os mais íntimos e cuja iguaria principal, era a carne de porco cheirosa, que enchia de água, a boca dos comensais. Cada vez que eu olhava para aquele tabuleiro, meu estômago embrulhava e eu saía correndo... Jurei, naquele dia que nunca mais comeria carne de porco...
À noite, no casamento religioso, os noivos receberam a bênção, numa cerimônia bonita, com o sermão simpático do Padre José...
Como é de praxe, toda a mãe da noiva que se preze, deve deixar rolar umas lagrimas; Enquanto minha mãe chorava de emoção, eu chorava de raiva...




Atenção: Essa história ocorreu quando eu tinha 16 anos e afirmo que, embora eu a tenha fantasiado um pouco, ela realmente aconteceu. 

A FAMÍLIA GONÇALVES "Capítulo III e Último" - Contos

Capítulo III 

Às 8h em ponto, Esmeralda, estava com a mesa pronta para o café da manhã. Curiosa, aguardava os demais para a tal reunião que o patrão iria fazer... Sabia que não era coisa boa...
Dona Marieta acorda também preocupada – Que mudança será essa?- matutava... Quando aparece na copa, Esmeralda esperava-a ansiosa para perguntar-lhe uma coisa que a deixara curiosa:
- Bom dia, dona Marieta! Mal humorada, ela responde:
- Mau dia, isto sim...
- Dona Marieta. Posso lhe perguntar uma coisa?
- O que é?
- Ontem, sem querer, foi sem querer mesmo, eu escutei o meu patrão falando com a senhora que os meninos ficavam forni... forni... Ah, lembrei! Fornicando... Nunca ouvi essa palavra... Que quer dizer hem? Dona Marieta...
- Ó sua bisbilhoteira! Fica escutando atrás das portas! O que ele falou é que ficavam estudando...
- Ah, bom! Pensei que fosse outra coisa...
-Você não tem que pensar nada! Pensa no seu serviço. Se continuar com essa mania, vou mandá-la embora e contrato outra...
- Por favor, dona Marieta, não me mande embora... Prometo que não faço mais!
- Por que está mandando embora a Esmeralda? _ pergunta seu Gonçalves, chegando à copa.
- Não é nada, querido... Eu estava aqui falando pra ela não ficar metendo-se onde não é chamada...
- Nem repita isso! Esmeralda, aqui em casa, é peça chave... Ela será minha parceira para ajudar-me nessa nossa mudança...
Marieta não se continha com tanta preocupação; estava nervosa...
Os meninos, mais relaxados, depois de uma noite de sono, nem sequer imaginavam o que iria acontecer com eles... Outras vezes, o pai tentou chamar-lhes a atenção pelo péssimo rendimento escolar. Contratou, até, um explicador para ajudá-los, porém, pouco adiantou...
- Bom dia pai! Bom dia mãe! Bom dia Esmeralda! _ Chegam à copa os meninos, achando que , facilmente, poderiam driblar o velho (como se referiam ao pai).
- Bom dia a todos! E aí? Estão preparados? - Sim, responderam...
-Em primeiro lugar, vou fazer um pequeno discurso e que todos devem escutar, sem pronunciar uma palavra sequer. Depois, deixarei que falem... Fez uma pausa...
Todos perceberam que não gostei do que vi, ontem, aqui. Não os culpo por tudo... Eu, também, sinto-me responsável pelo que está acontecendo.
Com a minha ânsia de dar a vocês o melhor conforto, dediquei-me demasiadamente às Empresas e deixei para trás o tesouro mais importante, que é a minha família...
Entretanto, sempre imaginei que a minha querida e muito amada Marieta fosse capaz de orientá-los, mas me enganei. Também, não atribuo a culpa só a Ela...
Como vocês sabem, Marieta veio de uma família humilde, casou comigo muito nova. No início do casamento, por ser bem mais velho, eu a mimava muito. Era a minha boneca... Com o correr dos anos, Marieta foi ficando mais mulher, mais vaidosa, o dinheiro lhe subiu a cabeça... Aí, Ela já não ligava para mim, nem para os filhos. Tornou-se uma mulher fútil que só pensa no prazer que o dinheiro proporciona...
O que deveria ser uma mãe feliz, orientando sua filhinha para que não se entregasse tão cedo, aos prazeres da carne e que estudasse e se formasse...
E o Jorginho, também, com aquela mulher bem mais velha e que a gente não sabe quem é, de onde vem e o que faz... Por amar muito a minha família, é que eu programei para nós uma mudança radical!
Agora, quero saber, se posso contar com vocês, inclusive você, Marieta? - Claro...- responderam sem muito entusiasmo...
Quando terminou seu discurso, percebeu que todos tinham lágrimas nos olhos, inclusive a Esmeralda... – Bom sinal! Ele pensou...
É, até que ele foi bonzinho... (pensavam, entre si, achando que a batalha estava vencida) Com um sorriso, todos, disseram que sim, que podia contar com eles...
- Então, já que todos concordaram, que tal tomarmos nosso café. Hum!!! Está cheiroso, só a Esmeralda para fazer este café tão gostoso!...
O café transcorreu num ambiente alegre: cada qual falava dos seus anseios, dos sonhos futuros e das frustrações, também. Só Esmeralda ficou num cantinho, calada, tão jururu... – Será que eu, também, entro nessa mudança?
- Claro! Esmeralda, você principalmente!...

Agora, Seu Gonçalves estava pronto para a parte mais negra do seu plano:

Então, programei para o Jorginho: ele vai trabalhar na Empresa pela manhã e estudar à noite. À tarde, aproveitará para passar os trabalhos escolares.
Meu sócio Rubens e os gerentes estarão à disposição para ensinar-lhe o serviço. Vai começar pela parte operacional, isto é, providenciar o material que vai ser entregue pelos caminhões. Tudo contado e pesado, areia, pedra, tijolo, etc...

Quanto à Julia, como estuda à tarde irá, com Marieta, para a cozinha, de manhã aprender a cozinhar, lavar roupa e tudo o mais que uma dona de casa faz...E Marieta , à tarde, vai aprender a passar roupa...
- E eu?... Reclamou a Esmeralda.
- Você é quem vai ensiná-las!
- Vai ser pra mim, um prazer, patrão!

- Muito bem! Agora, quem quer falar?
- Eu, pai, quero saber: a gente vai poder namorar?
-Depende... Se você ama aquela mulher e pretende continuar com ela, não lhe darei a minha bênção. Já mandei investigar a vida dela e descobri que tem dois filhos que não cria. Abandonou-os na casa dos avós paternos. Agora, você escolhe, se ficar com ela, será somente, aos domingos, à tardinha, porque pela manhã, iremos todos, passear pelos pontos turísticos do Rio, lugares estes, que eu, mesmo, nunca pude visitar...
Jorginho ficou calado, não tinha como argumentar...

- E eu, pai, com o meu namorado? Perguntou a Julinha...
- Vai ser a mesma coisa: só aos domingos à noitinha... E não mais no quarto!

Marieta foi a que mais chiou...
- Quer dizer, Elcio, que não vou mais sair, para as minhas comprinhas?
- Não, Marieta. As compras, faremos, sempre, juntos, porque só eu terei o cartão de crédito. E tem mais, não trabalho mais, só irei à Empresa uma vez por semana, para acompanhar o andamento...

Passaram-se seis meses: Jorginho, quando soube do passado de Silvana, tratou de desmanchar o namoro, temendo que pudesse ser enganado por ela e, quem sabe, aos dezoito anos vir a ser pai de um filho dela?... Silvana ainda tentou apelar para Marieta, mas esta, vigiada dia e noite pelo marido, não pode ajudá-la.

A Julinha ficou chupando o dedo, chorosa, porque quem deu o fora foi, mesmo o Ronaldo, quando viu que não tinha mais o docinho dele...

Marieta, aos poucos, foi acostumando-se com a nova vida. Sabendo que a Empresa estava no vermelho, foi maneirando nos gastos...
- Querido! Estou feia né? Não faço mais o cabelo, nem as unhas. Tô parecendo uma velha...
- Não, Marieta! Você está tão linda quanto quando nos casamos. Naquela época, sua beleza era natural e foi assim que me apaixonei... Então, querida, foi muito grande o castigo?
- Não, amor! No princípio, sofri um pouco, mas hoje, sou a mulher mais feliz do mundo porque tenho, também, o melhor marido do mundo!

Dez anos depois...

Jorginho, formado em Administração de Empresa, está casado com Marília, filha de Rubens. Bem casado, tem dois filhinhos (um casal). Esforçado no trabalho, assumiu o controle da Empresa, no lugar do Pai.

Julinha, por ser amante dos bichos, optou por veterinária. Na Faculdade, conheceu Eduardo e com ele se casou, assim que se formaram. Hoje, vivem felizes, dedicadíssimos aos seus bichinhos de estimação, que chamam de “nossos filhinhos”... E à profissão, também, é claro!

Época de Natal...

Gonçalves vai, com a família conhecer a nova Arvore de Natal, da Lagoa. Lá, encontra Rubens, que agora já faz parte da família por ser sogro de Jorginho e avô dos seus netinhos, também.
- Ô amigão! Você por aqui... Que bom te encontrar!
- Ah! Eu soube que vocês viriam aqui, dei uma fugidinha pra ver meus netos. Estava louco de saudades... Ah! Como são lindos e espertos! E vocês, também, que família linda!
- É amigo, o que a gente não faz por amor? Se não amasse a minha família, talvez eu tivesse desistido...
- Eu cheguei a pensar nisso, mas sempre acreditei que você conseguiria. Você foi um herói!
- “O AMOR FAZ MILAGRES”, meu amigo...


                                          FIM

A FAMÍLIA GONÇALVES "Capítulo II" - Contos




Capítulo II


Durante o jantar, Seu Gonçalves permanece, o tempo todo calado. Sua vontade era pedir explicações à Marieta sobre a invasão daqueles dois em sua casa como se já fizessem parte da família. Sentavam-se à mesa para o jantar, sem nenhuma cerimônia. Parecia que já era hábito antigo pois serviam-se sozinhos, manuseando pratos, talheres, copos, etc...
Conteve-se, não podia falar ali, naquela hora. O jantar, não lhe descia, tentou o vinho mas este, também, não o agradou. Por fim, pediu licença e retirou-se...
Foi para a copa tomar um antiácido, seu estômago queimava, parecia que ia explodir... Sua gastrite estava ali... Instalada...

À mesa, ainda, tanto os jovens, quanto dona Marieta entreolham-se assustados, sabendo que Seu Gonçalves, não compactuava com o que viu. Modernidade que ele não desejava para os filhos, por serem, ainda adolescentes. Dona Marieta sabia disso e os filhos, também...

Quando terminou o jantar, os namorados despediram-se com beijnhos em dona Marieta e saíram...
Silvana, quase da mesma idade de Marieta, já tinha-a como amiga, as duas comungavam as mesmas futilidades, as mesmas idéias, pouco saudáveis. Péssimo exemplo para os dois adolescentes...

Ao subirem para o quarto, os meninos estão sabendo que, no dia seguinte, com certeza, levarão uma reprimenda do pai.
Enquanto isso, Marieta vai à copa ver o marido para tentar consertar o estrago; antes que ela fale, ele, não se contém:
- Marieta, como você admite esses dois aqui, com os meninos nos quartos??...
- Que é que tem, querido, são tão bons meninos?
-Você sabe que eles ficam no quarto fornicando...-Não sabe, Marieta?
- Fale baixo, Elcio, a Esmeralda pode escutar... Ela está, aí, ao lado, na cozinha.
- Eu já vou subir, estou esperando passar a minha gastrite... Pode subir, lá em cima, conversaremos...

Na cozinha, Esmeralda muito curiosa, sempre que tem uma briguinha de casal, ela se põe atrás da porta para escutar a conversa...

Gonçalves permanece na copa, por algum tempo, matutando e chega à conclusão que o que vai fazer, não gostaria, é verdade, porém, se não o fizer, sua família e os sonhos que tinha para ela, dispersar-se-ão... Ele os ama demais, para permitir que isto aconteça!...

Firme em seus propósitos, sobe para o quarto; Encontra Marieta pronta para o bote: com uma lingerie azul, a que ele mais gosta, tenta seduzi-lo:
- Elcio, você está exausto! Vem para cama, vou te fazer umas massagens. Assim, você relaxa...
- Não , Marieta... Hoje, não estou disposto... Por favor, ligue lá para baixo e diga à Esmeralda que não mande os meninos para a Escola, amanhã. Quero todos reunidos, incluindo a Esmeralda e você, na copa, às 8 horas...
- Posso saber o motivo dessa reunião?
- Não... Só posso adiantar que, a partir de amanhã, nossa vida vai mudar e vai ser bom para todos nós...



Peço desculpas pela demora; meu computador está meio destrambelhado, como esta história; se o Seu Gonçalves conseguir colocar a casa em ordem, prometo que termino, se não, continuo, kkkkkkkkk


A FAMÍLIA GONÇALVES - Contos




Capítulo I

Sr. Elcio Gonçalves é um chefe de família exemplar...
Com 55 anos, é dono de uma empresa, deixada por seus pais, já falecidos.
Como todo empresário, trabalha bastante para manter o patrimônio que, com tanto esforço, seus pais conseguiram amealhar e que sua esposa Dona Marieta, compulsiva por natureza, não guarda escrúpulos por gastar!
A empresa de seu Gonçalves, como é conhecido,por todos, é uma rede de lojas de material de construção que administra com um número considerável de funcionários e com um único sócio, Sr. Rúbens, seu amigo de infância...
Sua família, é composta por: além de sua esposa Marieta, tem 2 filhos (Jorge, 18 anos e Júlia, com l6).
Além da esposa e dos filhos, tem os agregados: Esmeralda, empregada da família, uma senhora de seus 50 anos, semianalfabeta, solteirona, mas muito bem humorada; ajudou dona Marieta a criar seus filhos e tem, por eles, muito amor como se fossem seus filhos. Já é considerada da família; Silvana, 30 anos, namorada do Jorge e Ronaldo, l8 anos, namorado da Júlia.

Seu Gonçalves tem uma fineza no trato com as pessoas; Por isso, é muito querido, um ótimo patrão, ótimo marido, ótimo pai...
Quando fala na família, nota-se no seu semblante, um quê de tristeza. No fundo, não é totalmente feliz... Nos negócios, também, o faturamento caiu bastante e o seu padrão de vida tende a piorar, já desgastado pela gastança exacerbada de dona Marieta. Além disso, tem a preocupação com a educação dos filhos, que gostaria de partilhar mas que, infelizmente, seu trabalho não lhe permite... E se culpa por isso...

Dona Marieta, alienada, por conta de sua vaidade, quinze anos mais nova, só pensa em passeios, roupas e perfumes caros...Com fingida emoção, carinhosamente, pede-lhe sempre e ele, infelizmente, não consegue negar, mas argumenta:
- Marieta, tu sabes que a empresa não está em boa fase... Tens tanta roupa, por que queres comprar mais um vestido novo?
- Meu querido, fazemos parte de uma sociedade moderna e, por isso, temos que estar sempre prontos para os eventos sociais!
Seu Gonçalves procura fugir desses eventos; como sempre não consegue negar...
Os funcionários que gerenciam as 3 lojas de Seu Gonçalves, são profissionais de confiança e de muita responsabilidade. Por confiar na sua equipe, todo ano, a família se dá ao luxo de uma viagem ao exterior, porém, desta vez, por conta da crise, na empresa, não será possível...Seu Gonçalves comunica a seu sócio que está muito cansado e que vai tirar uns dias de folga, em casa mesmo, para descansar e aproveitar, também, para resolver certos problemas em família. Não sabe exatamente o que é, mas sabe que algo está nebuloso naquela casa... Pede a Rúbens que olhe com carinho a empresa e sai mais cedo, aí pelas 4 horas da tarde...

Chegando à casa, fica sabendo que dona Marieta não está.
- Esmeralda, você sabe aonde ela foi?
- Ela me disse que ia fazer umas comprinhas...
- E os meninos? – Esmeralda, já sabendo que ele iria perguntar, começa a engasgar... - não sei, acho que, que, que estão no quarto...E, para distraí-lo, oferece-se para preparar-lhe um lanche:-
- Obrigada, aceito um copo de leite morno,estou cansado e vou deitar-me. Quando minha mulher chegar, peça a ela que me acorde pro jantar...
Lá pelas 8 horas, dona Marieta chega e sabendo que o marido está em casa, vai direto ao quarto, acordá-lo:
- Elcio,querido, acorda! Acorda, Elcio! ... – Visivelmente sonolento, ele se levanta e vai ao banheiro lavar o rosto – Que ventos o trouxe para casa cedo, está doente? Sentiu-se mal, estou preocupada... (Oh Deus! Quanto fingimento...)
- Não , Marieta, apenas cansado... O jantar, está pronto? Estou com fome...

A mesa já estava arrumada para o jantar, preparado com esmero por Esmeralda. Era o risoto de camarão que o patrão tanto gostava...
Estavam prontos para se sentarem, quando aparecem, descendo as escadas, os filhos com os respectivos namorados: Jorge com Silvana e Júlia, com Ronaldo. Vinham alegres e sorrindo. Só não esperavam encontrar o pai, em casa àquela hora. Normalmente, ele chegava, sempre, às dez.
Seu Gonçalves viu que o que ele previra, estava certo. Sua família estava destroçada pela irresponsabilidade de Marieta. Não só ela, ele também se culpava por ser um pai ausente... Tanto trabalho, para que? Chegar em casa e encontrar o que encontrei? Não me conformo! Tenho que consertar isso...



Paro por aqui, estou cansada de escrever e acho que estão, tb, cansados de ler...Amanhã , prometo continuar...
Será que Seu Gonçalves vai conseguir consertar o que está errado na sua família? Aguardem...

O DEFUNTO ERRADO - Contos




- Quem está falando?
- Qué...qué...falá... com...quem?
- É o Lolo que está falando?
- É... sou... eu mesmo...
-Lolo, aqui é a sua prima Irene. Eu estou ligando para avisar a vocês que o Carlito faleceu. Tomem cuidado quando avisarem à tia Dora, ela está muito velhinha...
- Pode deixar...
Irene percebe que o Lolo está embriagado ( ele sempre toma umas e outras), então, pede pra ele chamar a irmã, Deise...
- Ô Irene, a Deise e a mamãe estão na casa da Tati, mas pode deixar, eu dou o recado...
- Está bem, mas não esquece...

Depois de tomar mais um gole, procura daqui, procura dali, acaba encontrando o telefone da Tati, sua outra irmã:
- Alô!
- Tati? Aqui é o Lolo...
- Sim...Houve alguma coisa, meu irmão?
- É uma coisa muito triste, mas não conte pra mamãe... É que a nossa prima Irene ligou falando que o tio Carlito morreu..


Observem bem: o recado que o Lolo recebeu foi de que o Carlito morreu; já o que ele transmitiu foi que o Tio Carlito morreu.

Explicando: havia o Carlos (Carlito) primo, irmão da Irene e filho de dona Marcelina, que era irmã da dona Dora, Em crianças, os primos brincavam juntos na casa de dona Dora, onde havia um grande quintal, todo arborizado. Depois de adulto, casou, mudou-se para longe e nunca mais se visitaram...
O outro Carlos ( também Carlito) tio, era irmão da dona Dora e da dona Marcelina...Como as três famílias se visitavam, inclusive porque o Carlito tio, estava com derrame cerebral já há alguns anos, em cima de uma cama.

Daí, a confusão, mas continuando... A Tati, achando que a mãe tinha o direito de saber da morte do irmão, sutilmente, sentou-se a seu lado e disse:
- A senhora sabe que o tio já sofreu muito, não é?
- Sim, eu sei... Por que está perguntando? Ele morreu?
- É verdade, mãe, o tio Carlito faleceu.
- Eu já esperava, que Deus o tenha, ele merece... E porque foi a Irene que deu a notícia? - esperava-se que fosse uma das filhas dele...
- A senhora sabe, a Irene é que mora perto dele e está sempre por dentro dos fatos... Agora, perguntando: a senhora vai querer ir ao enterro?
- Vou, sim, quero despedir-me do meu irmão pela última vez...-vejam quanta lucidez tinha essa velhinha de noventa e dois anos...-

Tati, Deise e a dona Dora, com a sua bengalinha, partiram para o cemitério... Ao chegarem à capela, antes de falarem com os outros parentes, foram direto ver o morto. Descoberto o rosto, dona Dora olhou espantada para a Irene e perguntou:
- Esse é o Carlito, Irene?
- É o Carlito, tia Dora! –diante do espanto, as irmãs Tati e Deise também olharam pro defunto e sem entenderem, perguntaram:
- Irene, esse não é...
- É sim, tia Dora, é o meu irmão Carlito! Vocês não sabiam que ele estava doente com leucemia?
--Não!!! Responderam as três, em uníssono...
A diferença foi logo percebida porque o tio, além de ser bem mais velho, era branco, de nariz adunco e o primo era mais novo e moreno.
A Tati, diante do inusitado, comentou com a Deise: - Que vexame, a gente veio crente que era o enterro do tio, quando acaba é o enterro do primo... Vamos lá para fora, este fato me deu uma grande vontade de rir...

Dias depois, a Irene ligou para a Tati:
- Olha, estou ligando para avisar da missa do Carlito, é na Igreja tal , tal às tantas horas, mas olha, se não quiserem ir, não precisa!
- Que é isso, Irene? Qual é a tua? Perguntou a Tati.
- A Rute, minha cunhada, ouviu quando a Deise falou que foi uma decepção para tia Dora, além do sacrifício de levá-la...
- Olha Irene, essa sua cunhada gosta de fazer uma fofoquinha... Quem fez o comentário fui eu e não foi nada disso. Ela escutou uma coisa e contou outra...